segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

OPINIÃO - ANO XXIII - Nº 247 DEZEMBRO 2016

Aizpúrua sobre “Kardec, a Biografia” e “Revolução Espírita”:]

“Duas obras que enriquecem o patrimônio bibliográfico moderno do Espiritismo”

Em sua recente viagem ao Brasil, o pensador espírita venezuelano Jon Aizpúrua tomou contato com duas obras de autores brasileiros acerca de Kardec e o espiritismo. Sobre elas, manifestou-se com entusiasmo, em depoimento inserido em listas de debates ligadas à CEPA, cujos principais tópicos reproduzimos a seguir.

Recuperando a história de Kardec e do espiritismo
Jon Aizpúrua, ex-presidente da CEPA, que esteve em São Paulo e Bahia, no último mês de setembro, relata que, como sempre o faz, quando vem ao Brasil, reservou um tempo para percorrer livrarias em busca de novidades bibliográficas que julga de interesse e proveito em assuntos históricos, filosóficos, científicos, éticos e sociológicos relacionados ao pensamento espírita. Entre os cerca de vinte livros adquiridos, dois deles chamaram especial atenção do intelectual espírita venezuelano: “Trata-se – escreveu ele – de duas biografias de Allan Kardec, ambas de autores brasileiros, escritas em diferentes estilos, mas com similares finalidades,  eis que os dois textos buscam recuperar algumas informações históricas sobre a vida do fundador do Espiritismo, assim como precisar acerca de suas opiniões sobre tópicos diversos que, às vezes, têm sido omitidas ou distorcidas para favorecer uma interpretação religiosa, particularmente cristã, da doutrina espírita”.

Os dois livros
“Kardec. A biografia” de Marcel Souto Maior (Editora Record, Rio de Janeiro) e “Revolução Espírita. A teoria esquecida de Allan Kardec”, de Paulo Henrique de Figueiredo (Editora MAAT, São Paulo, SP) são os títulos das obras que tão vivamente impressionaram Aizpúrua. A primeira, segundo ele, “redigida em um estilo narrativo, muito agradável, como se o escritor pensasse em uma possível adaptação ao teatro ou ao cinema”. A segunda, destaca, “pondo em evidência que o autor realizou uma extensa e sólida investigação em torno da vida de Rivail, mais tarde Allan Kardec, e a época e circunstâncias em que apareceu a doutrina espírita, e suas orientações gerais e particulares em relação com os mais complexos aspectos teóricos e experimentais”.

Religião espírita?
Relativamente ao controvertido assunto de ser ou não o espiritismo uma religião, segundo Aizpúrua, “a posição dos autores, bem interpretando o pensamento de Kardec, reitera o critério de que seu verdadeiro caráter é o de uma filosofia científica e moral e não o de uma religião, e isto o ratificam várias vezes em seus textos”. Acrescenta o escritor venezuelano que “há muito mais nesses livros acerca do espírito, sua sobrevivência, a reencarnação e a comunicação espiritual, que se distanciam nitidamente dos escritores pautados no evangelismo e no misticismo, aproximando-os dos critérios laicos, racionalistas, livres-pensadores, humanistas e progressistas que caracterizam a CEPA. Com igual firmeza, rechaçam o roustainguismo e reafirmam sua convicção acerca do caráter progressivo do Espiritismo e a necessidade de sua atualização”.

Convite à leitura
Na sua manifestação, dirigida especialmente aos espíritas ligados à CEPA, Jon Aizpúrua convida à leitura dessas obras que, segundo ele, ”sem dúvida, enriquecem o patrimônio bibliográfico moderno do Espiritismo, e se afinizam com o pensamento divulgado pela CEPA. Finaliza, dizendo: “Felicito-me por tê-las lido e felicito seus autores por sua posição aberta e destituída de preconceito e, também, por terem decidido investigar, escrever e compartilhar seu esforço intelectual, sua busca, sua reflexão, suas ideias e suas inquietações”.
(Leia em “Enfoque”, da última página, artigo de Paulo Henrique de Figueiredo)

Um tópico do livro de Figueiredo
Em sua manifestação, Jon Aizpúrua transcreveu este parágrafo do livro de Paulo Henrique de Figueiredo (foto), como confirmação daquilo por ele comentado:
A história do espiritismo no Brasil e a compreensão da doutrina espírita merecem uma profunda e progressiva revisão a partir dos princípios fundamentais e do paradigma original, propostos pelos espíritos superiores por meio de Kardec. Há uma herança histórica do pecado católico arraigado na mente do brasileiro que pode explicar a aceitação e falsa divulgação, no meio espírita, da reencarnação como castigo, em evidente conflito com a mensagem original de autonomia presente na lei da escolha de provas. Por outro lado, a influência do misticismo oriental tornou voz corrente a equivocada associação do espiritismo com as ideias de carma ou causa e efeito como castigo. Tão arraigado se encontra esse pensamento heterônomo do carma, que se repete nas tribunas e está transcrita em livros, folhetos, películas e demais meios de difusão, divulgando uma teoria oposta à de Allan Kardec. Se isso ocorre é porque sua verdadeira mensagem ainda não foi compreendida, constituindo um terreno onde se deve atuar por meio da educação para alcançar a mudança de paradigma a que a doutrina se propõe. A essência mesma do espiritismo está na revolução que enfrenta essas ideias retrógradas do velho mundo. Essa é verdadeiramente sua luta: a mudança do modelo de submissão e de castigo pelo pensamento de liberdade, autonomia, mudança, colaboração e fraternidade...





O ano termina. Progredimos?
As ideias se modificam pouco a pouco, conforme os indivíduos, e é preciso que passem algumas gerações para que se apaguem completamente os vestígios dos velhos hábitos. (O Livro dos Espíritos – questão 800).

O Brasil e o mundo passaram por um ano difícil. A retrospectiva dos embates políticos, das dificuldades sociais e das traumáticas rupturas institucionais vividas por nosso país, deixa antever que a História reservará para o ano de 2016 a classificação de um período marcado por profunda crise.

 No mundo, por conta, especialmente, do avanço do terrorismo, do incremento do fundamentalismo religioso em algumas regiões e, também, em face da inegável reação do conservadorismo político dos Estados Unidos, em suas eleições presidenciais do último mês, o ano termina apontando para o risco do reavivamento de uma cultura xenofóbica e intolerante, que parecia em vias de superação, especialmente depois que a grande nação do Norte houvera, oito anos antes, guindado um negro de origem humilde e com clara visão democrática, pluralista e humanista, ao exercício de sua presidência.
A lei do progresso, por nós, espíritas, apregoada como fator condutor da História, parece, pelo menos a uma primeira vista, haver sofrido forte abalo, permitindo mesmo a especulação de que se, ao invés de progredir, o mundo tenha experimentado significativo retrocesso.

O progresso, contudo, não se faz, ao curso da História, de uma forma linear e constante. A filosofia espírita propõe se o veja como síntese dialética de alternados movimentos de conservação e de destruição, inerentes ambos ao processo da vida individual e social. São movimentos que vão vencendo etapas, embora sujeitos a fluxos e refluxos, avanços e retrocessos, capazes, só ao longo do tempo, de conduzirem a estágios de superação.

 Bem por isso, O Livro dos Espíritos, na magnífica exposição das leis divinas ou naturais, enuncia as leis de conservação e de destruição, juntamente com a de sociedade, antepondo-as à lei do progresso. Este, embora inexorável no processo histórico, pressupõe permanentes esforços no sentido da conservação de valores reputados como imutáveis, e de luta pela destruição daquelas tendências egocêntricas, discriminatórias e mantenedoras da garantia a interesses de uns poucos em detrimento do bem comum. É o que caracteriza as sociedades dominadas pelo autoritarismo e pelo poderio econômico.

A sucessão de ciclos renovatórios é processo lento porque depende fundamentalmente do progresso intelectual e moral da humanidade. Os valores éticos, à luz do pensar espírita, são forjados pelo conhecimento mais amplo das leis da vida, entre as quais desponta como a mais relevante aquela segundo a qual o bem-estar, a felicidade, a paz e a prosperidade de uma coletividade emanam da vivência das leis do amor, da justiça e da caridade. Nessas expressões mediante as quais Allan Kardec e seus interlocutores espirituais resumiram a totalidade das demais leis naturais estão contidos todos os ideais do humanismo moderno, presentes nas estruturas jurídico-institucionais dos países civilizados, mas nem sempre devidamente cultivados na alma de seus cidadãos, sejam estes governantes ou governados.

Se já fomos capazes de avançar significativamente na institucionalização desses valores, frutos de concepções teóricas amadurecidas pelo processo histórico, já é mais do que tempo de vivenciá-los na intimidade de nosso ser e no relacionamento nosso com o outro e de todos para com as soberanas leis inspiradas na ordem natural.
Enquanto a vivência mais efetiva desses valores não acontecer, o progresso, não obstante, continuará ocorrendo, mas não no ritmo que o estágio evolutivo atual da humanidade e seu avanço intelectual já poderiam comportar. Os conhecimentos e os valores éticos teoricamente assimilados reclamam da humanidade procedimentos com eles compatíveis. O descompasso entre a teoria e a prática talvez seja a causa maior do mal-estar que caracteriza nosso tempo.







Cinzas da cremação
Confesso que me surpreendi. Tenho notado nas  declarações e atitudes do Papa Francisco um sentido de modernidade que vai ao encontro de grande parte dos costumes e aspirações de nosso tempo, a maioria dos quais ainda ontem combatidos pela Igreja.
Mas essa de proibir se espalhem as cinzas da cremação do corpo de um ente querido na natureza, ou mesmo de guardá-las respeitosamente em casa, como lembrança material daqueles que partiram, contraria uma saudável tendência  ecológica e, penso, muito saudável. Em vez disso, o Vaticano recomenda que “as cinzas do defunto devem ser mantidas em um lugar sacro, ou seja, nos cemitérios”.

O pó que (não) somos
Nãoo vejo nada mais “sagrado” do que a Natureza. E isso não significa necessariamente uma adesão ao que a Santa Sé classificou como “equívoco panteísta” ou “niilista”. Nosso corpo, segundo a própria tradição cristã, é parte intrínseca da natureza, pó ao qual retornará, quando dele tiver que se separar o espírito: “Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris” (Lembra-te, homem, que és pó e em pó te hás de tornar), dizia o padre no meu tempo de seminarista, fazendo uma cruz com cinzas em nossas testas, na quarta-feira que se sucedia ao carnaval.
Nesse mesmo sentido, numa perspectiva espiritualista, em que se tem o espírito como sendo nosso próprio “eu” e o corpo como sua roupagem provisória, jogar nossas cinzas ao mar, espalhá-las entre as árvores de um bosque ou, mesmo, guardá-las em aprazível recanto da casa que nos serviu de morada, são manifestações de carinho e reconhecimento à matéria que instrumentalizou o espírito na jornada finda.

A “capsula mundi”
Rubem Alves, escritor e educador, que nos deixou há cerca de dois anos, antes de morrer, pediu que cremassem seu corpo e jogassem as cinzas junto a um ipê roxo que ele havia plantado. Um jeito gostoso de mantê-lo fisicamente entre seus queridos.
Mas, agora surgiu algo bem mais interessante. Li, esses tempos, sobre o projeto “capsula mundi”. Um italiano bolou uma cápsula orgânica e biodegradável projetada para transformar um corpo em decomposição em nutrientes para uma árvore. A ideia é de que o sujeito escolha a árvore em que deseja transformar seus restos mortais.

Sina-sina ou araucária?
Gostei da ideia. Se a moda pegar, fico na dúvida se opto por ser uma modesta sina-sina, arbusto humilde que povoou o cenário de minha infância, na região da Campanha do Rio Grande do Sul, ou uma majestosa araucária, tão abundantes foram elas no lugar, então ainda rico em matas, em que passei parte de minha juventude, na Serra Gaúcha.
 O que, decididamente, não quero – e tenho repetido com insistência isso a meus familiares - é que meu corpo se decomponha na fria tumba de um cemitério. Não vejo nada de sagrado nisso. Se existe algo de “sacro” na vida, é a própria vida, que transcende à morte e nos perpetua como seres inteligentes da natureza que integramos.




O Congresso da CEPA
em Porto Alegre (II)

O Convite à FEB
Interessante a reação da “Casa Mater” ao segundo congresso que a CEPA realizava no Brasil. Em ofício de 25 de novembro de 1998, comuniquei à FEB a sua realização em outubro de 2000, fazendo o convite para que esta se fizesse presente ao evento. Ao mesmo tempo, convidei o então Presidente da FEB, Juvanir Borges de Souza, “a dialogar em torno do delicado tema que envolve a reaproximação e a convivência fraterna entre importantes instituições representativas do Espiritismo no mundo - a FEB e a CEPA”, argumentando que “não podemos ignorar que existem divergências conceptuais entre as duas instituições. Mas também não podemos ignorar que ambas são espíritas, norteiam-se pelas mesmas obras que integram a Codificação Espírita e têm no pensamento kardequiano a base de seus programas de ação”.

A resposta da FEB
Em resposta, Juvanir me enviou atenciosa e fraterna correspondência, datada de 28 de dezembro de 1998, afirmando, entre outras coisas, que “por não reconhecer nos homens nenhuma autoridade para alterar, a qualquer título, uma Doutrina que não foi por eles elaborada e nem revelada, mas sim pelos Espíritos Superiores, que a FEB não se faz presente nos Congressos ou em outras quaisquer reuniões que apresentem conclusões que impliquem modificação dos princípios e postulados da Doutrina Espírita codificada por Allan Kardec”, acrescentando “... que temos pontos comuns no que se refere ao comportamento fraternal dos homens - especialmente os espíritas - mas não podemos concordar com procedimentos, encontros congressos, ideias, etc. que se propõem a revisar o que é fundamental, que procede do Alto e que os Espíritos fizeram questão de transmitir aos homens de forma muito especial, na obra da Codificação de Allan Kardec.” Finalizou dizendo: “Diante de sua carta fraternal, queremos agradecer-lhe o empenho em realizar o melhor para o Movimento Espírita, e observar, ainda, que a FEB sempre esteve e sempre estará aberta ao diálogo construtivo, embasado nos princípios doutrinários, com todas as pessoas e instituições interessadas em estudar e praticar a Doutrina Espírita.”

Em 31.08.99, convite semelhante foi feito à Federação Espírita do Rio Grande do Sul, presidida por Nilton Stamm de Andrade. O posicionamento então assumido pela FERGS foi além da simples recusa em participar. Também recomendou a não participação de toda a sua rede federada apoiando-se em deliberação tomada pelo Conselho Federativo Nacional, da FEB, em sua reunião de 13 a 15.11.99.
Disso tratarei no próximo número.





Carlos Brandt

“A auréola mitológica criada em torno de Jesus impediu que a ele se tenha dado, na história, o merecido posto de filósofo. É certo que, passados vinte séculos de prédicas cristãs, muito pouco se adiantou moralmente a humanidade. Esta se acha mais ou menos no mesmo estado em que a encontrou Jesus. Mas, convém não esquecer que o mais admirável em Jesus foi o belo de sua doutrina e a firmeza em pregá-la, e não o êxito de impô-la ao mundo. A circunstância de uma doutrina moral não conseguir penetrar na consciência dos homens não a desvirtua. Nesse caso, os desvirtuados são aqueles que não conseguem adaptar-se a ela”.
(Do livro “Jesús, el filósofo por excelencia” – Ediciones CIMA, Venezuela)






Espírito de carona no automóvel?
“The Sun” publica foto que pode ser de um espírito.

O fato teve grande repercussão, especialmente nas redes sociais do mundo inteiro, depois de noticiado pelo tabloide “The Sun”, um dos mais populares jornais do Reino Unido, em sua edição de 16 de agosto último.

O relato é de Melissa Kurtz, uma mulher de 48 anos. Ela levava sua filha de 13 anos para um desfile de modas, quando a menina pegou do celular da mãe e começou a tirar “selfies”.

Dias depois, Melissa, examinando as fotografias tiradas pela filha no interior do automóvel, surpreendeu-se ao ver a figura de um garoto no banco de trás do veículo. Ela disse ter ficado em choque, pois tinha certeza que, na ocasião, estavam só ela e a filha no carro.  Correu para mostrar as fotos a umas amigas e todas afirmavam ver com certa nitidez a figura do jovem. Resolveu, então, levar o material para estudiosos de paranormalidade e estes, após de uma investigação, atestaram não haver qualquer manipulação digital.

Constatou-se, na investigação, que, um ano antes, naquele mesmo local, ocorrera um acidente de trânsito do qual resultaram alguns jovens mortos. Um deles foi identificado como o garoto que aparece na foto. Segundo algumas interpretações, ele estaria ali para alertar a menina a usar o cinto de segurança.
“The Sun” publicou a foto, junto com esta declaração de Melissa: “Muitas pessoas acreditam em vida pós-morte e isso foi para mim uma prova de que ela existe”.



CEPA Brasil divulga manifesto

Homero: “Um documento apartidário, refletindo a tensão dos dias atuais”.

Homero Ward da Rosa
A Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA, instituição que reúne espíritas ligados à CEPA – Associação Espírita Internacional, acaba de divulgar amplo manifesto refletindo o atual momento político e social vivido pelo Brasil.
A manifestação, firmada pelo presidente da CEPABrasil, Homero Ward da Rosa (Pelotas/RS) , nasceu de proposta do associado Ricardo Nunes (Guarujá/SP) e colheu sugestões de vários integrantes da entidade.

Segundo Homero, “o manifesto tem caráter apartidário, registrando reivindicações, desejos e expectativas que refletem a tensão dos dias atuais no Brasil”.

De acordo ainda com o presidente da CEPABrasil, o país encontra-se “oscilante entre a insegurança do presente e a incerteza do futuro”. Dentro desse quadro, que compõe atual realidade histórica, foi concebido o documento da CEPABrasil, reafirmando sua vocação democrática, pluralista e livre-pensadora e expondo alguns princípios com os quais comungam os cidadãos espíritas que a integram.

Ricardo Nunes
O documento abre com a consideração da imprescindibilidade “de um governo balizado nos princípios democráticos de Direito”, defendendo a permanente necessidade de “respeito aos direitos e garantias individuais dos cidadãos” por parte do Estado.

A partir desses pressupostos defende, entre outros temas, o combate à corrupção, que entende deva ser “permanente”. Posiciona-se contra o congelamento de investimentos do Estado para áreas como a saúde e a educação.  Especificamente, no campo da educação, manifesta-se o documento “favorável a uma escola que estimule o livre-pensamento e desenvolva uma educação voltada a formar cidadãos críticos e coerentes.”.

Também repudia “qualquer tipo de manifestação odiosa, seja de caráter político, religioso, étnico, sexual, de gênero, raça, classe social, etc.”.

O documento defende princípios de ecologia, como a preservação das reservas florestais brasileiras, a par do livre empreendedorismo e manutenção de programas sociais como o “bolsa família”. Igualmente defende “uma imprensa livre, plural, democrática, que abra espaço para os vários setores e interesses da sociedade brasileira e cujo objetivo seja a busca da verdade dos fatos”.

Divulgado inicialmente nas listas de debate da CEPA, o manifesto recebeu referências de apoio de vários integrantes. Para o jornalista espírita Eugenio Lara (São Vicente/SP), “o manifesto está muito bom, dá gosto de ler”. Ele ressalta que “quem não é espírita vai ficar surpreendido ao lê-lo”, pois que, “os espíritas, de modo geral, são muito tímidos politicamente”.
A íntegra do documento pode ser lida no site oficial da CEPABrasil: www.cepabrasil.org.br.





Como participar da regeneração 
de nosso planeta
 Paulo Henrique de Figueiredo – Escritor, autor de “Revolução Espírita – A Teoria esquecida de Allan Kardec – (São Paulo).

A formação de Rivail, futuramente Allan Kardec, foi no ambiente rural de sua família, em Saint Denis de Bourg, um vilarejo junto à cidade de Bourg-en-Bresse, capital do departamento de Ain. Ali viveu numa bela e grande propriedade, de sua avó Charlotte e sua mãe Jeanne, ambas viúvas. Quando rapaz, sua mãe o levou para a Suíça, no castelo onde Pestalozzi recebia alunos pagantes, e outros cuja família não tinha condições de custear sua educação e estudavam de graça em Yverdon.

O método de Pestalozzi, inspirado nas ideias de Rousseau, valorizava a autonomia dos jovens, que compreendiam as coisas pelo esforço nascido da curiosidade ao lidar diretamente com os objetos de seus estudos, fossem os rios, as montanhas, as plantas, insetos, animais, o clima, os hábitos, os fenômenos físicos, químicos e tudo mais.
No ambiente artificial das grandes cidades, com seus prédios, calçadas, ruas tomadas de charretes e carruagens, metidas em seus quartos escuros e úmidos, as crianças do século 19, fechadas nas salas de aula, longe da natureza, recebiam uma formação que poderíamos chamar de adestramento. Um professor ditando as frases, com sua palmatória na mão, pronto a repreender qualquer iniciativa, demonstração de emoção ou questionamento de suas palavras. O dever maior era a obediência, o decorar, a submissão. Era o que esperavam obter os professores, durante séculos orientados pelos religiosos, como os jesuítas.

Na sua cidade natal, porém, Rivail podia correr os campos de trigo, pular os córregos que moviam as pás dos moinhos, convivia com a riqueza de pássaros, pequenos animais, da florida Bourg. Aprendia ao cavoucar a terra, colecionar pedras, observar as borboletas, acompanhar os pássaros em seu dia a dia.

Tempos depois, agora professor e diretor de escola em Paris, Rivail, ao lembrar-se desses velhos tempos, relata:

Vede as crianças a quem foram dadas desde cedo ideias sobre história, história natural, física, química: estátuas, quadros, plantas, animais, os fenômenos de que são testemunha, uma simples pedra, tudo lhes interessa. Sua atenção está desperta e, por suas perguntas, provam o quanto se pode tirar partido de sua inteligência, quando se sabe lidar com ela convenientemente”.
(RIVAIL, H. L. D. Discurso pronunciado na Distribuição de prêmios de 14 de agosto de 1834).

Pestalozzi recebia os jovens que tinham liberdade de aprender com entusiasmo e iniciativa, ao produzir conhecimento com o uso da razão, vivenciando esse processo de forma alegre, participativa, independente.
Essa formação de Rivail foi fundamental para que ele compreendesse tanto o método quanto a teoria dos espíritos superiores quando da elaboração da doutrina espírita.

Os espíritos não fizeram o trabalho dos homens. Incitavam a manifestação de espíritos que despertavam a curiosidade e o interesse sobre os fenômenos espirituais. Kardec e os demais pesquisadores debatiam, questionavam, investigavam os fatos. Surgiam hipóteses, diversas, ouviam as opiniões diversas. Somente quando estavam preparados para compreender as razões e explicações dos espíritos superiores, só então, é que eles transmitiam seus ensinamentos por meio do diálogo. Desse modo, o método de elaboração da doutrina espírita respeitava e promovia a autonomia intelectual.
Por outro lado, os espíritos revelaram que a lei que rege as relações sociais dos espíritos no mundo espiritual está baseada na liberdade, e, tendo presente na consciência a lei de Deus, todos nós devemos desenvolver nossa moral de forma autônoma. Seguimos as leis que compreendemos, na medida de nossa evolução, adquirindo progressivamente o livre-arbítrio.

Esses novos ensinamentos da doutrina espírita superam os milenares dogmas de que Deus age castigando e recompensando as almas, para submetê-las a regras que ninguém compreende a razão. Essa visão heterônoma de Deus é falsa, criada pelos homens para submeter às multidões aos seus interesses mesquinhos de poder e privilégios.

Como demonstramos em Revolução Espírita, a teoria esquecida de Allan Kardec, a autonomia moral é o ponto de virada do velho para o novo mundo. A autonomia intelecto-moral deve ser a base de conduta das relações sociais na família, na escola, no trabalho, no governo, na assistência social. Essa é a teoria esquecida. Sua retomada colocará o espiritismo como vanguarda da transformação moral da humanidade, revolução nas ideias e em todas as coisas, representando a regeneração da humanidade pela liberdade!
(Publicado originariamente no blog http://revolucaoespirita.com.br)




Amigos do CCEPA confraternizam
Como acontece anualmente, nesta época, dirigentes, frequentadores habituais e integrantes dos grupos de estudos do Centro Cultural Espírita reúnem-se, neste 3 de dezembro, em um almoço de confraternização na sede da instituição.
Para o dia 14 de dezembro, uma quarta-feira, às 15h, dia e hora habitualmente reservados para atividades de grupos de estudos, o presidente Salomão Jacob Benchaya (foto), está convidando todos os integrantes dos grupos de estudo para um Seminário de Integração dos Grupos, como encerramento das atividades do ano. Na oportunidade, serão examinados aspectos relativos ao estudo teórico do espiritismo e planejadas as atividades de 2017.
Benhaya, que também exerce a direção do Departamento de Eventos do CCEPA, manifesta-se satisfeito com os resultados obtidos com as atividades dos grupos no ano que finda.

Chega ao fim o Curso Espírita de Mediunidade
O Seminário de Integração dos Grupos marca, também o encerramento, com êxito, do Curso Espírita de Mediunidade realizado  sob a coordenação de Salomão Benchaya e de Donarson Floriano Machado (foto), e que se desenvolveu de março a dezembro deste ano. Cerca de 20 participantes concluíram o curso e deverão constituir  um novo grupo de estudos regulares para o ano de 2017.

Novo Curso Básico de Espiritismo em 2017
No dia 15 de março de 2017 terá início mais um Curso Básico de Espiritismo aberto à comunidade. Será ministrado pelo nosso Diretor de Estudos Espíritas Marcelo Cardoso Nassar (foto), no horário das 19h30min às 20h30min.    
   
Juristas espíritas paulistas
dão atendimento judiciário
A informação transitou pela lista de debates da CEPA, na Internet, e recebeu aplausos e comentários elogiosos de vários participantes do grupo: A Associação Jurídico Espírita de São Paulo, Núcleo da Baixada Santista, promoveu no dia 26 de novembro último, o que chamou de “1º Mutirão de Atendimento e Orientação Jurídica”.

O evento inédito teve como objetivo “promover o acesso à justiça por meio de orientação e encaminhamento da população local, da região central e portuária de Santos/SP, com atenção e carinho, acolhendo a cada um de forma digna e fraterna”, como expressou o autor da comunicação, advogado Marcelo Marafon.

A prática está sendo implementada pela Associação Jurídico Espírita de São Paulo também na capital e em outras regiões do Estado (foto).

Saudamos a iniciativa, recordando que, em tempos de tantos conflitos familiares, econômicos e sociais, o oferecimento de assistência judiciária ou de orientação jurídica a necessitados é uma forma qualificada de prática da caridade e exercício de cidadania.
Maiores informações sobre a iniciativa podem ser obtidas através do e-mail: phbattimarchi@gmail.com .

CIMA Caracas com novos Dirigentes
O Movimento de Cultura Espírita CIMA, da Venezuela, que tem como presidente nacional Jon Aizpúrua, acaba de eleger a Diretoria de sua seccional de Caracas, para o biênio 2017/2019.
O CIMA Caracas desenvolve intensas atividades de estudos e pesquisas espíritas, na capital venezuelana, com movimentada agenda também de conferências públicas. Para conhecer melhor suas atividades, recomenda-se a visita à sua home-page - http://movimientoespiritacima.org/

Como Diretora Geral daquela seccional, foi eleita Yolanda Clavijo, pessoa inteiramente comprometida com a proposta espírita e totalmente integrada ao movimento internacional da CEPA, com notável participação nos últimos eventos internacionais espíritas.
Segue a nominata dos novos dirigentes de CIMA-Caracas:

Diretora Geral: Yolanda Clavijo; Secretário Geral: Alvaro La Torre; Secretário de Finanças: Osvaldo Campos; Secretário de Cultura: Vicente Ríos; Secretária de Atas: Ingrid Obelmejías; Vogal de Comunicão: Victor Da Silva; Vogal de Educação: Gladys Alvarado.
No próximo mês de janeiro, serão eleitos os novos dirigentes da Seccional Maracay do CIMA, e, em março/abril, realizam-se as eleições para a Direção Nacional.


Na foto, a nova Diretoria de CIMA Caracas. Yolanda Clavijo é a terceira, a partir da esquerda.

“Boletín Progreso” - Espanha
Enviado por sua presidente, Rosa Díaz, recebemos o boletim “Progreso”, Ano X, nº 7, editado pela AIPE, Associação Internacional para o Progresso do Espiritismo, com sede na Espanha.

A edição traz resumo dos trabalhos apresentados no II Congresso Espírita Internacional, organizado pela AIPE, de 16 a 18 de setembro último, e que teve o apoio e a participação da CEPA – Associação Espírita Internacional.
A versão eletrônica do boletim pode ser acessada pela Internet em www.progresoespiritismo.com .






Opinião de...
Gostei muito da nova secção do CCEPA OPINIÃO, com o título de “Opinião de...”. Parabéns pela iniciativa!
Alcione Moreno – São Paulo/SP.

Espíritas cubanos pedem livros
Escrevo da cidade cubana de Holguin, com o desejo de que todos, ao lerem esta mensagem, estejam bem.
Estamos apelando para a possibilidade de receber livros espíritas em espanhol.
Nossa direção: “Grupo de Estudio del Espiritismo la Luz del Porvenir – Apartado de correos 5 – Código postal 80100 – Holguin – Cuba”
Saudações fraternas.
Walter Pérez – Holguin, Cuba.


terça-feira, 8 de novembro de 2016

OPINIÃO - ANO XXIII - Nº 246 NOVEMBRO 2016

A humanidade fracassou?
Crianças em
extrema pobreza

Número acaba de ser divulgado pela UNICEF, com base em dados levantados pelo organismo, juntamente com o Banco Mundial, no ano de 2013.


Crianças são mais atingidas que adultos
Os números são de 2013, mas a UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância – divulgou-os em 4 de outubro último: cerca de 385 milhões de crianças até 17 anos, viviam, naquele ano, em extrema pobreza. Segundo o relatório, crianças têm duas vezes mais probabilidade de viver em pobreza extrema – considerada esta quando alguém sobrevive com menos de 1,90 dólares diários – do que os adultos.

O mapa da pobreza
Entre os 385 milhões de crianças em pobreza extrema, 122 milhões têm até 4 anos, 118 milhões têm entre 5 e 9 anos, 99 milhões entre 10 e 14 anos e 46 milhões estão na faixa etária entre 15 e 17 anos.

O relatório resultou da análise de dados de 89 países, que representam 84% da população dos países em desenvolvimento. As crianças que vivem em pobreza extrema estão concentradas sobretudo na África subsaariana, onde 49% delas vivem em pobreza extrema: 51% de todas as crianças pobres no mundo vivem nessa região. Segue-se o sul da Ásia, com cerca de 36%, com destaque para a Índia, com mais de 30% das crianças vivendo nessas condições.





A humanidade não está fracassando
Nada justifica que seres humanos, e especialmente crianças, morram de fome. O Livro dos Espíritos assevera que as desigualdades sociais são obras do homem e não de Deus, e que, numa sociedade organizada conforme as leis de Jesus, ninguém morreria de fome.
As leis de Jesus não são outras que não as do humanismo e da justiça social, movimentos dos quais o jovem nazareno foi arauto. E estas, devemos reconhecer, avançam, apesar da crueza dos números que, numa primeira vista, parecem denunciar o fracasso da humanidade.

Não, a humanidade não está fracassando. O mesmo Banco Mundial, parceiro da UNICEF, registrava em 1981 que 44% da população mundial vivia na pobreza extrema. Hoje, a parcela se reduziu a menos de 10%, e “esta é a melhor história no mundo hoje em dia”, declarou recentemente Jim Yonk Kim, presidente do Banco Mundial.

Em artigo reproduzido por Zero Hora (8 e 9/10/16), com o título de “A melhor notícia que você não sabia”, Nicholas Kristof (foto), articulista de The New York Times, registra dados como estes: Durante toda a história da espécie humana até a década de 1960, a maioria dos adultos era analfabeta. Agora, 85% dos adultos do mundo inteiro sabem ler e escrever. Nas duas últimas décadas, o número de pessoas vivendo em pobreza extrema no mundo, caiu pela metade. Igual proporção ocorreu no número de mortes de crianças pequenas, salvas por campanhas de vacinação, promoção de aleitamento materno, remédios para pneumonia e diarreia. Há um projeto em andamento na ONU que pretende erradicar a pobreza extrema até 2030. Os avanços têm sido registrados por estatísticas absolutamente confiáveis.

Enfim, é preciso, sim, denunciar as injustiças, que são injustificáveis. Mas é necessário também reconhecer, e sempre, que, apesar das desigualdades que nos revoltam – e às quais, antes, se mostravam indiferentes os poucos afortunados do mundo -, há uma lei de progresso que está gravada na consciência do espírito humano e se expressa em nossa capacidade de indignação, diante das desigualdades ainda existentes. Estas, de fato, são obra do homem e ao homem caberá reduzi-las, para que o mundo se torne, ali adiante, um lugar melhor para se viver. (A Redação)
 




Humanidade e Paz
Quantas estradas um homem precisará andar antes que possam chamá-lo de homem?  Bob Dylan.


O verso de Bob Dylan questionando sobre a longa caminhada do ser em busca da genuína condição humana sugere se reavive o sonho da integração plena entre humanidade e paz.
O recém eleito Prêmio Nobel da Literatura, em sua famosa canção “Blowin’ In The Wind” denuncia a  radical incompatibilidade entre humanidade e guerra, e aponta para a paz como meta suprema da raça humana.

Paz! Quando a atingiremos? De um lado, nos países ocidentais, formalmente democráticos e teoricamente regidos por princípios inspirados na sacralidade dos direitos humanos, persistem elevados níveis de desigualdade social, de violência e de corrupção pública e privada, fatores que inibem a harmonia e a paz social. De outro lado, os conflitos civis, em países ainda dominados por fundamentalismos religiosos e estruturas de poder infensas à ordem democrática, geram crise humanitária sem precedentes na História, obstaculizando o advento da tão sonhada paz mundial. Hordas de criaturas famintas, provindas especialmente de nações africanas e asiáticas submetidas a esses regimes buscam os países do Ocidente postulando refúgio. É uma tragédia que se encena diariamente e se mostra distante de um epílogo feliz. Governantes temerosos de que a estabilidade e a prosperidade conquistadas por seus povos sofram revezes e retrocessos com a chegada e a convivência de gente de cultura e necessidades díspares às suas, hesitam em adotar políticas de acolhimento e inserção social às multidões que tentam transpor suas fronteiras.

Está aí o grande desafio da pós-modernidade: fazer concretos e efetivos os valores antes teoricamente apregoados de universalização da justiça, da fraternidade, e da real igualdade do ser humano, independentemente de suas etnias, crenças e tradições culturais. Esse processo de transição, de fato, não é fácil.  Exige renúncias de todos os personagens partícipes do novo cenário mundial. Requer sejam superados preconceitos e discriminações arraigados nas culturas de uns e de outros, para que só um fator seja levado em conta: o de que formamos, os seres inteligentes da Terra, um só gênero e uma só raça - a humana.

A visão de homem e de mundo que o espiritismo propõe pode ajudar esse processo de transição. Na medida em que nos enxergarmos mutuamente, todos, como espíritos nascidos simples e ignorantes, viajores de muitos tempos e tantas estradas, no processo contínuo de humanização, e formos capazes de difundir esses mesmos princípios de evolução e progresso, estaremos dando testemunho de integração à nova ordem mundial e contribuindo no sentido de que ela se torne real em todos os quadrantes do Planeta.
O espírito não foi criado para a guerra, mas para a paz. Mesmo que nos demoremos em fases marcadas pela barbárie, alimentada esta pelo egoísmo que apequena e pelo orgulho que cega, chega o tempo de entendermos o verdadeiro sentido da vida. Bob Dylan diz que as respostas para a superação das angústias humanas produzidas pela violência, pela guerra e pela ausência de liberdade, estão soprando ao vento. Kardec diria que se encontram gravadas na consciência desse ser que tem como compromisso aprimorar, vida após vida, sua própria humanidade.

As estradas são muitas, as existências múltiplas, mas a humanidade caminha para atingir, um dia, sua plena integração à paz.





Em busca de justiça
Os leitores do jornal Zero Hora se surpreenderam e, com certeza, se comoveram, ao ver, em uma de suas edições diárias do mês de setembro, o desabafo de um pai, numa página inteira do mais importante periódico da capital gaúcha, no dia em que se completavam 11 anos do assassinato de seu filho, sem que, até então, se tenha identificado e punido o autor do homicídio.
Diante da impunidade, que é regra nos casos de delitos contra a vida, no Brasil, onde só cerca de 8% dos homicídios dão origem a processos criminais, os religiosos, a título de consolo, dizem: a justiça dos homens falha, mas a divina jamais.
 
Justiça divina/justiça humana
A dicotomia justiça divina/justiça humana pode ser consoladora, mas não aplaca o sofrimento de quem vê se perenizar a impunidade. Afinal, nem todos creem em Deus ou em algum sistema infalível de justiça a se operar, ali adiante, depois da morte.  Querem que ela se faça aqui mesmo.
Pergunta-se, então: Seria possível conceber uma justiça infalível? Só mesmo numa sociedade em tudo o mais infalível, composta também de infalíveis indivíduos. Mas aí estamos falando em perfeição, coisa que ninguém ousa atribuir a um indivíduo ou a qualquer comunidade deles.

Para sair do caos
Definitivamente, então, estaria a humanidade condenada ao caos? Se os mecanismos da vida não lhe asseguram a realização da justiça, a própria vida não tem sentido. Parafraseando Dostoievski, que em Os Irmãos Karamazov afirma, através de um de seus personagens, que “se não existe Deus, tudo nos é permitido”, poderíamos apregoar: se a justiça não existe, tudo está liberado.
Há um jeito de se sair disso. Ele não está, a meu ver, exatamente na fé em uma divindade capaz de compensar, tão logo morramos, todas as injustiças aqui cometidas. Está na crença da perfectibilidade do ser humano, enquanto sujeito a uma lei natural de evolução e que se opera, gradualmente, pelas instâncias todas da vida. Superar o dualismo vida/morte pela dialética nascer/morrer/renascer/progredir sempre, nos permite vislumbrar a perfectibilidade da justiça. É também o jeito de identificar uma Inteligência imanente às leis naturais.

Justiça e vingança
Fora disso, só restam duas alternativas: negar a existência da justiça como valor inerente à vida, ou relegá-la a dimensões para além do humano. Se inviável a realização da justiça, inviáveis também a bondade, o perdão, a tolerância, que o humanismo nos legou. Quando não alcançável a justiça, que, com razão, queremos se perfectibilize, sobrará apenas a dissimulação do desejo de vingança, mesmo que verbalizado como de justiça.
 Por certo, não é o que deseja aquele pai, mas é o que a sociedade estimula, quando descura de seu dever de, permanentemente, buscar a justiça, alimentando a crença de ser ela humanamente viável sem que, para isso, se tenha de ferir a dignidade humana.




 
O Congresso da CEPA em Porto Alegre (I)
 Há 16 anos, o CCEPA organizou e promoveu, em Porto Alegre o XVIII Congresso Espírita Pan-Americano, (11 a 15.10.2000), com o tema “Deve o Espiritismo Atualizar-se?” objetivando “discutir a questão da atualização doutrinária do Espiritismo”. Recordo esse histórico evento para homenagear os 70 anos da CEPA, fundada em 05.10.1946, na Argentina.

Nesse congresso, pela primeira vez, estudiosos espíritas apresentaram trabalhos, no Fórum de Temas Livres, representando diversas vertentes do movimento espírita.
Milton Medran Moreira foi eleito, nessa ocasião, como novo presidente da CEPA que, em razão disso, passou a ter sua sede em Porto Alegre-RS, Brasil, até 2008.
Como era esperado, fortes reações opuseram-se ao tema escolhido e à própria realização do evento que, apesar disso, teve pleno êxito, tanto na organização quanto no conteúdo.
Antes do evento, a CEPA teve o cuidado de divulgar uma “Declaração de Intenções” com o intuito de prestar esclarecimentos ao movimento espírita e evitar interpretações equivocadas acerca dos seus objetivos. Nesse documento, que pode ser lido, na íntegra, no meu livro “Da Religião Espírita ao Laicismo – a trajetória do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre”, a CEPA esclarece seus propósitos com respeito à escolha congresso, considerando que, embora tendo posição firmada sobre o assunto, coerente com o pensamento do Codificador, estava ciente da existência de posicionamentos diferentes, no movimento espírita.

Nessa declaração, a CEPA descartava a pretensão de “em um único congresso, efetuar a revisão pontual da Doutrina Espírita”, reafirmava a “atualidade de partes importantes e fundamentais da obra de Kardec, não superadas pela Ciência”, considerava que “atualizar o Espiritismo é torná-lo atual, situá-lo na época em que vivemos, torná-lo presente e atuante em todos os setores do pensamento humano”, acentuava que, “em hipótese alguma,  sob pena de violação de direitos autorais,  podem ser alterados os textos ou expressões das obras de Allan Kardec, como os de qualquer autor” mas ponderava que “as ideias, concepções e teorias expostas nas obras da Codificação e nas que lhe são complementares, como o próprio fundador do Espiritismo afirmava, não sendo mais do que a expressão do conhecimento dos seus autores, subordinadas ao contexto de uma época, são passíveis de revisão e de atualização”, acrescentava que “não serão objeto de discussão, neste Congresso, os postulados básicos do Espiritismo, mas que “poderão ser questionados conceitos e interpretações a eles referentes expressos na literatura espírita por autores encarnados ou desencarnados ou que se tornaram correntes entre os espíritas”, e finalizava informando que, “embora os congressos da CEPA possuam amplo caráter deliberativo, este não tomará  deliberações no que concerne ao conteúdo doutrinário das propostas, exposições, teses e/ou trabalhos que ali forem apresentados. Estes se constituirão em subsídios para novas pesquisas, experimentos e estudos, em áreas específicas, por parte de pessoas e/ou instituições, com a participação dos Espíritos, cujos resultados e conclusões retornarão ao debate em futuros simpósios, seminários, congressos, etc.”

            Tem mais sobre o congresso, na próxima edição.
 






Amalia Domingo Soler


 “Disse Allan Kardec a última palavra nas obras fundamentais do Espiritismo? Não, por que isso seria deter a marcha majestosa do progresso. Ele falou com simplicidade para que as multidões o entendessem, ele formulou muitas e variadas orações, porque compreendeu que as almas acostumadas a ter templos para rezar, não poderiam ficar sem o consolo de rezas repetidas em diversos tons. Ele fez um trabalho cuja importância ainda não compreendemos, porque só o tempo agiganta os reveladores de novas verdades”. (Amalia Domingo Soler, em “La luz de la Verdad”).



Desmitificando o Espiritismo
e o Centro Espírita

Postado por Nícia Cunha (foto) (Cuiabá/MT), em sua página de Facebook, o texto “O que acontece quando você entra em um centro espírita?”, teve dezenas de compartilhamentos. Sua publicação original está no blog “Letra Espírita” -   http://letraespirita.blogspot.com.br/ -    e foi assinada por Sabrina. Diante da precisão dos conceitos ali emitidos, CCEPA OPINIÃO resolveu reproduzir o artigo:

Quando você entra em um centro espírita, você não se torna médium. A não ser que você já tenha nascido com o corpo físico preparado para isso, você não começa a ver ou a ouvir os Espíritos.

Quando você entra em um centro espírita, não existe nenhuma espécie de recado dos Espíritos Superiores direcionado exclusivamente a você. Tampouco seus familiares desencarnados te enviarão cartas dizendo o que você deve ou não fazer da vida.
Quando você entra em um centro em espírita, as pessoas não vão te contar quem você foi ou fez em suas vidas passadas. Se essas informações fossem necessárias você se lembraria por conta própria. Basta saber que você colhe hoje aquilo que plantou em outras existências até para que você passe a semear com mais sabedoria e amor no seu dia de hoje.

Quando você entra em um centro espírita, você não recebe a solução mágica para resolver seus problemas. Suas dores continuarão a existir. Suas perdas, suas mágoas, suas dificuldades de relacionamento ou o que quer que você enfrente na vida.
Quando você entra em um centro espírita, você definitivamente não está salvo. Seu lugar no céu jamais poderá ser comprado até porque a ideia de céu do Espiritismo nada tem a ver com anjos tocando harpa nas nuvens, e sim com a consciência tranquila do dever cumprido.

A verdade, que poucos compreendem ou querem compreender, é que quando você começa a frequentar um centro espírita absolutamente nada muda em sua vida.
Acredite. Nada mesmo.

A não ser que você tome a decisão de mudar, que você compreenda que precisa realizar melhorias em si mesmo, que aceite o convite da reforma íntima e moral, tudo continuará da mesma forma que já estava.

Ninguém pode viver nossa vida ou dar por nós os passos que nos cabem. Compete a cada um de nós a construção da nossa própria felicidade. Essa noção de responsabilidade individual, tão pouco considerada nos dias atuais, é, com certeza, uma das primeiras lições, entre tantas outras, que você aprenderá quando de fato entrar em um centro espírita.
           




“A violência é uma doença da alma”
Na mesma edição em que o jornal gaúcho Zero Hora lançava, em sua capa de final de semana (27 e 28 de agosto/2016), a campanha “Segurança Já”, visando mobilizar Estado e sociedade para reduzir os altos índices de criminalidade no Rio Grande do Sul, uma reportagem do mesmo jornal entrevistava o médium espírita Divaldo Pereira Franco, que se encontrava na capital gaúcha. Apresentado pelo repórter Rodrigo Lopes, como “discípulo de Chico Xavier” e “o mais importante representante do espiritismo no país”, o médium baiano respondeu a várias perguntas do entrevistador.

Recordando que a Organização Mundial de Saúde já definiu a violência como “uma doença da alma e deve ser tratada na alma, do ponto de vista espiritual e de natureza psíquica”, Divaldo sustentou que “para essa violência urbana, a única solução é a educação”.

Perguntado pelo repórter se, com a idade que tem, seria verdadeiro ter conhecimento de quando iria morrer, o médium respondeu que a hora da morte, segundo o Evangelho, “nem Jesus sabe, só Deus”, acrescentando: “Eu tenho 89 anos, então meu tempo é curto”.




Ensaio sobre a Evolução
e o Espiritismo
De Lamarck a Capra *
Alcione Moreno – Médica, membro da CEPA e do CPDoc – São Paulo/SP


O todo é sempre maior do que a soma das partes, este é o pensamento sistêmico que, empregando como referência bibliográfica Fritjof Capra e Allan Kardec, serve de tema aos comentários que faremos sobre a evolução e o espiritismo.

Até o século XIX, o pensamento vigente era: todas as criaturas foram criadas por Deus, e através da reprodução perpetuariam suas espécies na Terra.  As formas biológicas foram fixadas de uma vez para sempre, sendo imutáveis.

Lamarck foi o pioneiro em teorizar que as espécies não são fixas, elas mudam com o tempo e dependem do meio ambiente. Depois, Darwin e Wallace descortinaram a seleção natural: o meio existe e os organismos vivos têm que se adaptar para não perecerem.
Nessa época não se sabia nada sobre genética. Um monge, Mendel, através de suas experiências com ervilhas, inicia-nos no vislumbre da hereditariedade.

Através dos estudos do neodarwinismo e com a descoberta de genes, cromossomos, DNA, RNA, projeto genoma, progrediu muito nosso conhecimento biológico. Dessa forma, parte do pensamento no século XX, ficou focada nesses descobrimentos. Tudo girava em torno do DNA, de que derivavam todas as doenças e todas as soluções.
Outra linha de pesquisa focou na célula, principalmente na membrana celular, que é uma organela que a envolve. Tudo seria resolvido através da troca que acontece entre o meio interno da célula e o meio externo do ambiente.

Dividido o conhecimento em DNA cêntrico e célulo cêntrico, ele não contemplava todo o desenvolvimento evolutivo dos organismos vivos, tentando só estudar cada parte. Não se entendia o todo, e muitos estudiosos iniciaram estudos multidisciplinares, unindo biólogos, químicos, físicos, matemáticos etc. Percebeu-se que o todo é maior do que a soma das partes, e a isso se deu o nome de pensamento sistêmico.
A palavra “sistema” indicando organismos vivos e sistemas sociais significa uma totalidade integrada. Pensamento sistêmico passou a indicar a compreensão de um fenômeno dentro do contexto de um todo maior.

A raiz da palavra “sistema” é do grego syn + histanai (“colocar junto”). Compreender as coisas sistemicamente significa literalmente colocá-las em um contexto, estabelecer a natureza das suas relações. Ao longo de todo o mundo vivo, encontramos sistemas vivos aninhados dentro de outros sistemas vivos.
O duplo papel dos sistemas vivos, como partes e totalidades, exige a interação de duas tendências opostas: uma tendência integrativa, que os inclina a funcionar como partes de um todo maior, e uma tendência autoafirmativa, ou auto-organizadora, que os leva a funcionar para a preservação de sua autonomia individual. Disso resulta uma nova maneira de pensar – um pensamento que se processa fazendo uso de termos como conexidade, relações, padrões e contexto.

De acordo com a visão sistêmica, as propriedades essenciais de um organismo, ou sistema vivo, são propriedades do todo, propriedades que nenhuma das partes possui. Elas surgem das interações e relações entre as partes. Estas partes não são isoladas, e a natureza do todo é sempre diferente da mera soma das suas partes.

Cada uma das moléculas do nosso corpo já fez parte de outros corpos. Não são só as moléculas da vida que temos em comum com o restante do mundo vivente, mas também os princípios básicos de organização vital.

O avanço decisivo da concepção sistêmica da vida resultou de se ter abandonado a visão cartesiana da mente como uma coisa, percebendo-se que a mente e a consciência não são coisas, mas processos – processo mental.

É dessa forma que também devemos pensar na integração do meio físico com o extrafísico, ou, como nos ensina Kardec, do mundo corpóreo com o incorpóreo. Do plano físico ao plano espiritual, tudo se integra numa grande rede, a teia da vida.
Assim, a teia da vida consiste em redes dentro de redes, vida corpórea e vida espiritual, integradas e ligadas uma às outras, a interagir com outros sistemas.

* Resumo do trabalho apresentado pela autora no XIV Simpósio Brasileiro do Pensamento Espírita – Santos/SP 2015.






CEPA 70 ANOS

A CEPA – Associação Espírita Internacional (ex-Confederação Espírita Pan-Americana) completou 70 anos de fundação no último dia 3 de outubro. A efeméride foi devidamente comemorada por ocasião do XXII Congresso da CEPA (maio/2016, em Rosário, Argentina), de cuja programação constou um Painel retrospectivo da história da instituição, fundada em Buenos Aires, no ano de 1946. Do painel participaram: Dante López (Presidente de 2008 a 2016), Milton Medran Moreira  (Presidente 2000 a 2008), Mario Molfino (filho do ex-presidente Romeu Molfino, gestão 1972/1975) e Gustavo Culzoni (filho do ex-presidente Hermas Culzoni, gestão 1975/1990).
Na data do 70º aniversário, a CEPA, que, desde o Congresso de Rosário, tem na presidência a brasileira Jacira Jacinto da Silva, divulgou a seguinte mensagem alusiva à efeméride:



CEPA BRASIL 13 Anos
Também no mês de outubro, foi lembrada a fundação da Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA – CEPABrasil, que completou  13 anos. Em comemoração à data, seu presidente, Homero Ward da Rosa publicou no site da instituição esta mensagem:






Um blog para analisar publicações espíritas
Do jornalista Carlos Antônio de Barros (João Pessoa/PB), editor do blog “Kardec.com”, recebemos pedido de divulgação de seu novo blog “Lendo e Divulgando”, voltado especificamente à leitura, análise e divulgação de revistas, jornais e livros espíritas. O endereço é http://lendodivulgando.blogspot.com.br/ .  Contatos com o idealizador desse projeto literário podem ser feitos pelo e-mail:  jornalista1938fenaj@gmail.com


Mediunidade – Teoria e Prática
Está chegando a seu final o Curso Espírita de Mediunidade – CEM -, iniciado em 23 de março de 2016, no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre – CCEPA -, sob a coordenação de Salomão Benchaya e Donarson Machado (foto).

No dia 26/10, a parte teórica do curso teve seu encerramento, com a exposição de Milton Medran Moreira (foto), convidado pelos coordenadores a falar sobre "Evolução e Consequências Morais do Espiritismo".
Nas semanas seguintes, sempre às 4as. feiras, até 14/12, as sessões serão destinadas a experimentação mediúnica com o grupo de concluintes do curso.

Curso dá origem a novo grupo de estudos
Uma pesquisa feita entre os participantes do curso, que se desenrolou durante praticamente todo o ano de 2016, identificou o interesse da quase totalidade dos cerca de 20 concluintes em constituir um novo grupo de estudos na Casa, com o aprofundamento de todos os aspectos doutrinários do espiritismo. O novo grupo funcionará a partir de 08.03.2017.

Há vários anos, o quadro de integrantes do CCEPA, uma instituição espírita que tem como objetivo central o estudo doutrinário, tem se constituído, exclusivamente, por pessoas que participam dos seus cursos ou que o buscam por interesse no estudo do espiritismo.
Em breve, o CCEPA abrirá inscrições para um novo Curso Básico de Espiritismo a ser realizado em 2017, provavelmente, à noite.







Jones e Elba: 50 anos de SELC/CCEPA
Maurice Herbert Jones é um grande homem que prestou imensos serviços ao espiritismo no Brasil. Por trás de sua discrição e sobriedade, está uma enorme contribuição à doutrina. Um marido super companheiro e presente na vida de Elba, outra grande pessoa que aportou sua inteligência e energia aos trabalhos sociais e de instrução espírita. Um líder antenado, um pensador racional, lúcido, que teve enorme importância no redirecionamento dos rumos ao espiritismo. Com imenso respeito e admiração, junto-me aos que o homenagearam, lamentando não estar presente à celebração carinhosa que a ele proporcionaram.
Nícia Cunha – Cuiabá/MT.

Maurice Herbert Jones
Merecida a homenagem prestada pelo CCEPA, noticiada em CCEPA OPINIÃO de outubro. Todos homenageamos a Maurice por suas lições de conhecimento e paz de espírito.
Mauro de Mesquita Spínola – São Paulo/SP.

CCEPA Opinião na Venezuela
Estimado Milton: Quero dizer-te que tenho lido Opinião destes meses mais recentes e me sinto altamente entusiasmado com as matérias ali expostas, muito particularmente com a orientação que dás com teu editorial e outros artigos. No CIMA, se diz que Opinião “é a  revista do CIMA em português”.
Jon Aizpúrua Presidente de Movimento de Cultura Espírita CIMA – Caracas, Venezuela.