sábado, 5 de novembro de 2011

OPINIÃO - ANO XVIII - N° 191- NOVEMBRO 2011

Haverá lugar para tanta gente no planeta Terra?

Já somos sete bilhões
de espíritos encarnados

Explosão demográfica é maior em países pobres
Pelos cálculos da ONU, no último dia 31 de outubro, nasceu, em algum lugar do mundo, o bebê que, em números redondos, fez com que a população da Terra chegasse a 7 bilhões de pessoas.
Apesar de as Nações Unidas comemorarem o fato de, nas últimas décadas, ter havido, nos países desenvolvidos e também nos emergentes, entre os quais se encontra o Brasil, uma sensível queda de expectativa de filhos por mulher, relatório recentemente elaborado sobre o tema dá conta de que a população cresce desordenadamente nas nações mais pobres do Planeta. Estima-se que a África será responsável por metade do aumento populacional dos próximos anos. Em países como a Nigéria e Somália, onde grassam a fome e a miséria, ocorrem os mais dramáticos níveis de explosão demográfica.
Nos tempos de Kardec
No ano de 1804, quando, na França, nasceu Allan Kardec, a população mundial era de 1 bilhão de pessoas. Mas, já havia a preocupação com a superpopulação planetária. Poucos anos antes (1798), o economista britânico Thomas Malthus publicara um livro onde alertava para a importância do controle de natalidade. Sustentava que a população crescia em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos aumentaria apenas em proporção aritmética. Como resultado disso, em pouco tempo, faltariam alimentos e a fome dominaria o mundo.
O tema em O Livro dos Espíritos
Como o fez com todas as questões relevantes de seu tempo, Allan Kardec submeteu o tema ao exame dos espíritos, seus interlocutores, na elaboração de O Livro dos Espíritos (1857). No capítulo em que trata da Lei de Reprodução, assim questionou as entidades espirituais: “Se a população seguir sempre a progressão crescente que vemos, chegará o momento em que ela se tornará excessiva na Terra?” (Questão 687). Os espíritos assim responderam: “Não. Deus a isso provê e mantém sempre o equilíbrio. Ele nada faz de inútil. O homem, que apenas vê um ângulo do quadro da Natureza, não pode julgar da harmonia do conjunto”.





O humano e o divino
Nada demonstra melhor a presença divina no homem do que sua capacidade de raciocinar e de agir inteligentemente. Diante de expressões tais como “Deus proverá”, “Deus operará”, etc., é de se considerar, sempre, a capacidade humana de interagir com as leis naturais, emanadas da “Inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”, Deus.
Se, há dois séculos, a mente humana foi capaz de detectar o perigo da superpopulação da Terra, hoje já dispomos de meios capazes de administrar o risco. Nesse período em que a população mundial se tornou sete vezes mais numerosa, fomos capazes de ampliar, em proporção ainda maior, nossa capacidade de produzir alimentos. A Terra, generosa, produz, hoje, o suficiente para alimentar as sete bilhões de bocas que habitam o Planeta, com possibilidades de ampliar a produtividade.
Mesmo assim, quase um bilhão de pessoas no mundo passam fome. A inteligência, presente divino feito tecnologia, foi capaz de produzir o fantástico milagre da multiplicação dos pães. Mas não se capacitou ainda a repartir convenientemente o alimento que produz. A Natureza, divina e dadivosa, fez sua parte. A ganância do ser humano, em contrapartida, não lhe permite cumprir adequadamente seu papel. Não atribuamos, pois, a uma pretensa justiça divina as condições miseráveis em que vive grande parcela da humanidade. “A desigualdade das condições sociais é obra do homem e não de Deus”, assevera a questão 806 de O Livro dos Espíritos.
De outra parte, mesmo que a alguns isso pareça uma indevida intromissão nos planos divinos, o homem foi capaz de criar mecanismos de limitação responsável da prole, atento ao princípio da dignidade de que deve se revestir a vida física do espírito. A pobreza e a deseducação, todavia, a que condenamos grande parte da população mundial impede-a de conhecer e se utilizar dos métodos anticonceptivos necessários a essa regulação.
São desafios que seguem buscando soluções humanas, num mundo onde, segundo estimativas, deverão viver mais de 10 bilhões de almas encarnadas até o fim deste século. 
(A Redação)





A morte ante o enigma da vida
A morte é provavelmente a maior invenção da vida. Steve Jobs
A morte do bem-sucedido empreendedor norte-americano Steve Jobs, mês passado, acabou por resgatar aspectos interessantíssimos de sua vida. A ampla divulgação de um discurso por ele pronunciado em 2005 a formandos da Universidade de Stanford revelou seu profundo discernimento acerca do fenômeno da vida e da morte. Contou que ao se saber portador de um câncer que o acometeu em fase relativamente jovem, resolveu pôr em prática o ensinamento de que se deve viver cada dia como se fosse o último da vida. Lembrando que ninguém quer morrer, mesmo aqueles que acham que vão para o Paraíso, seu discurso, no entanto, sugere que a morte deve ser tema de reflexão diária, além de estímulo a uma vida correta e útil.

Antes de Jobs, importante filósofo patrício seu, George Santayana, escreveu que o verdadeiro valor de uma filosofia deve ser medido pela forma como ela encara a morte. Nesse particular, a filosofia espírita assume incomensurável valoração. Como costumava dizer o insigne escritor, orador e pesquisador espírita brasileiro, Henrique Rodrigues, à luz da filosofia espírita, morte não é o contrário de vida. Se quisermos buscar um antônimo para morte, poderemos encontrá-lo no termo nascimento, pois, na verdade, tanto este como a morte são episódios igualmente inerentes à vida.    
Pensar a vida no contexto de uma filosofia dinâmica e evolucionista é, mais do que isso, contemplá-la dialeticamente como nascimento-morte-renascimento, fases integrantes da necessária e permanente renovação do espírito. Por isso foi igualmente preciso o recado deixado por Steve Jobs aos universitários de Stanford, ao definir a morte como “o agente de mudanças da vida”, na medida em que “remove o velho e abre caminho para o novo”.
Enfim, é preciso convir que nada é inútil na vida. Tudo tem seu lugar e significação, muito embora, na posição em que, eventualmente, nos encontremos, nem sempre possamos avaliar a importância de um evento. Não é diferente com a morte. O ser humano só poderá aquilatar sua significação quando estiver em condições de decifrar o ainda, para a maioria, enigmático fenômeno da vida. 

  



Crença e moral
Se buscarmos um elemento comum a praticamente todas as religiões, além da crença em Deus, com certeza iremos nos deparar com o conceito de alma ou espírito. Em todos os tempos, todos os povos guardaram a convicção de que há, no homem, um componente imortal, sede de sua consciência individual.
Mas – curioso! – a crença, como tal, não resolveu o problema moral da humanidade. Ao contrário, a fé religiosa parece desviar o ser humano de seu entorno natural, levando-o à busca frenética do mistério. Para cultuar o sobrenatural, as religiões engendradas pelo homem, terminam por desprezar a límpida moral emergente das leis da natureza. Criando seus dogmas, códigos, hierarquias, sacerdócios, ritos e liturgias, fazem desses aparatos pontes para o sobrenatural, o que lhes assegura poder e domínio.

Não basta ter fé
As chamadas “teocracias”, ou “governos de Deus” se constituíram nas mais cruéis e sanguinárias ditaduras. Ainda o são, em pleno Século XXI, em culturas que insistem em não fazer concessão ao laicismo e à liberdade de pensamento. Subsistem resquícios teocráticos mesmo nas democracias, onde se elegem governantes e parlamentares comprometidos com crenças retrógradas, capazes, na prática, de anular os valores historicamente conquistados pelo homem.
Então, para o cultivo da ética, não basta ter fé. Tampouco, basta ter uma religião. Fé religiosa e ética frequentemente se contrapõem.

O sentido da vida
É preciso acrescentar à fé uma ampla compreensão do sentido maior da vida. E viver de acordo com esse sentido, que, em sua essência, é o da prática do bem, do amor, da justiça, da caridade para com todos.
Ideais como de liberdade, igualdade, fraternidade, que não foram postulações religiosas, mas, via de regra, conquistas obtidas contra a religião, indicam a aspiração do homem no sentido do progresso.
É nesse movimento espontâneo que se pode identificar a força do espírito imortal, fagulha da própria divindade, que a todos alcança, crentes ou não, mas, indistintamente, filhos de um mesmo Deus e vocacionados à perfeição. O enfoque da vida a partir da realidade do espírito conduz ao mais autêntico humanismo.

O humanismo espírita
Uma postura otimista acerca do homem deve ser marca fundamental do espírita. Crer em Deus e não acreditar no homem é contrassenso. É admitir a falibilidade divina: o Criador teria projetado muito mal a criatura. Teria se enganado com relação a ela.
Aquele que acredita no homem crê também no progresso da humanidade como um todo, ou de uma nação como grupo de indivíduos.
Basta ver o que fomos e o que somos para avaliarmos o que seremos.
O mal-estar que vivemos, fruto de desmandos e desequilíbrios, não indica retrocesso. Hoje, as injustiças e a corrupção nos fazem mais mal do que ontem. Aparecem mais, porque nos revoltamos mais contra elas, tomados de louca obsessão por debelá-las.
Se já somos capazes de assim sentir é porque podemos operar transformações: “A aspiração por uma ordem superior de coisas é indício da possibilidade de atingi-la”, escreveu Kardec, em solene declaração de fé na humanidade. Assino embaixo.







Casa da Prece – 35 anos
comemorados com ciclo de palestras

A passagem dos 35 anos da S.E.Casa da Prece, de Pelotas/RS, está sendo comemorada com um ciclo de palestras a cargo de expositores convidados.
Dia 1º de outubro, o físico e escritor porto-alegrense, Moacir Costa de Araújo Lima falou sobre “Reencarnação à luz da Física Quântica”. Em 15/10, Milton Medran Moreira foi o expositor do tema “Espiritismo em Tempos de Inquietação”. Na oportunidade, o presidente da Casa, Homero Ward da Rosa fez interessante síntese histórica da instituição e, especialmente, do papel desempenhado por uma de suas fundadoras, Maria da Glória Rosa Martins (desencarnada em 2008), em cuja residência se reunia o grupo de senhoras que deu origem à Casa da Prece.
A programação de aniversário prossegue neste 5/11, com a palestra “Sexualidade, Família e Reencarnação”, seguida do mini-seminário “Sintomas Clínicos da Mediunidade” (6/11), ambas atividades a cargo do médico Ricardo Di Bernardi (Florianópolis/SC).


Clarividência é tema de Le Journal Spirite
Enviado por seu Diretor, Jacques Peccatte, recebemos a edição digitalizada de Le Journal Spirite, publicado em Nancy, França, pelo Cercle Spirite Allan Kardec. A edição de outubro/2011, em espanhol, com tradução de Ruth Newmann (Venezuela) trata do tema “clarividencia”, com fartas referências teórico-doutrinárias sobre o assunto e relatos de experiências naquele núcleo espírita francês.
A edição digital em espanhol pode ser solicitada gratuitamente pelo e-mail: j.peccatte@free.fr


Tempos de Inquietação: tema de Dezembro no CCEPA
A palestra pública de dezembro, na última segunda-feira (5/12 às 20h30), no Centro Cultural Espírita de Porto Alegre estará a cargo do Diretor de Comunicação Social da instituição, Milton Medran Moreira, versando sobre “Espiritismo em Tempos de Inquietação”.
Dia 7 de novembro, a conferência mensal pública foi com Ascêncio Balaguez: “Conexão com Espíritos”.





Da humana existência
Paulo Cesar Fernandes, Filósofo – Santos-SP

Sim, humana. É dos seres humanos e para seres humanos a destinação do presente artigo. Não está focado nos viventes em realidade não corpórea, mas nos espíritos que existencialmente e fisicamente habitam o nosso Planeta Terra. Este é o foco.
Por que usar no título a ordem inversa numa construção da Renascença? Para enfatizar o humano, tendo o existencial como qualificador do dia-a-dia do homem, inexoravelmente. É uma realidade da qual este não se pode desvincular. Viver é um ato existencial.
A morte, esse fantasma que assombra a humanidade desde tempos imemoriais. Não temos memória ou lembrança do momento em que pela primeira vez ela nos assombrou. Esta nos surpreende desde os primeiros tempos da passagem terrestre: um avô, uma tia, uma avó bonachona, deixam a vida em momento inesperado. Mesmo um animal de estimação pode morrer, trazendo ao ingressante do planeta alguma sensação de vazio e desconforto.
Diante da presença da morte, descobre a criança ou adolescente a sua condição de ente biológico; e o faz de forma mais profunda e impactante do que poderiam lhe trazer quaisquer aulas de ciências biológicas dos bancos escolares. É tocada sua emoção, seu sentimento.
Muito além do biológico que o homem é, da consciência de si mesmo compartilhada com os animais, é possuidor de algumas coisas a mais: a razão; a imaginação; e ampla gama de sentimentos e emoções. Faz parte da natureza, portanto está sujeito à Lei Divina ou Natural (LDN), mas se sente incapaz de modificar qualquer dos aspectos dessa Lei, por ser ela universal e perene. Daí lhe advém a sensação de impotência diante de seus ditames.
Tendo a razão como instrumental, é capaz de desvendar aspectos da LDN, mas cada aspecto desvendado lhe abre novas portas, trazendo novos desafios. Essa é a dinâmica do conhecimento. Segundo Fromm[1] “o homem é o único animal para quem sua existência é um problema que ele tem que solucionar e do qual não pode fugir. Ele não pode voltar ao estado pré-humano de harmonia com a Natureza; tem de prosseguir para desenvolver sua razão até que se torne senhor da Natureza e de si mesmo”.
A única possibilidade de fuga seria o suicídio, se este trouxesse realmente o fim. Diante da imortalidade e da reencarnação essa opção cai por terra: o Espírito segue existindo.
Na atualidade, muitos homens e mulheres urbanos têm profunda nostalgia com relação à harmonia do meio rural. Se sentem apartados da natureza, descontentes. E tal descontentamento acaba sendo uma das alavancas do progresso. Impele-os na busca de novas opções. Querendo tornar para si conhecido aquilo que desconhecem, procuram respostas. Sentem necessidade de prestar contas de si a si mesmo. Saber o significado de sua existência terrestre e das atribulações desta.
Sabedor de sua condição de ser biológico e tendo a morte como um fato, a duração da vida terrena lhe impede o desenvolvimento das potencialidades plenas, melhor dizendo: de todas elas. Percebe suas possibilidades e é incapaz de transformar potência em ato.
Como poderia o homem desenvolver todas as suas potencialidades? Fazer de todas as suas potências atos? Tendo o tempo da Humanidade. Mas, isso parece impossível se deixarmos nossos pés na Terra, mirando uma só existência. Se olharmos, porém, a imortalidade da alma como uma aliada, essa angústia existencial de ampliação de potencialidades se desfará no ar. O tempo sai da condição de algoz para se tornar um aliado.
Mesmo a morte, “angústia de quem vive” segundo Vinicius, passa a ter relativa significação, embora busquemos viver plenamente sempre, a cada minuto. Spinoza diz que “tudo o que o homem tiver dará pela vida, e o homem sábio não pensa na morte, e sim na vida”.
Somos solitários em nossa jornada espiritual. Na busca de decisões importantes na nossa vida atual. E quanto mais solitários nos sabemos, maior importância atribuímos ao outro. O outro que partilha conosco: seja no lar, no campo profissional, ou em qualquer outra área. Este é sempre o espelho onde podemos nos mirar, o referencial para nos sentirmos vivos e também gente. Isolamento denota patologia.
É no confronto e no encontro com seus semelhantes que o homem dá significado à própria vida. Um significado baseado nalguma certeza, porém também nas incertezas capazes de alavancar a expansão de suas forças, suas potencialidades, trazendo produtividade ao seu existir no mundo, valendo-se da razão e da sensibilidade humana da qual é portador, sendo o uso de tais características a fonte de reencontro consigo mesmo. O humano, se ligando ao outro humano numa perspectiva de solidariedade.
Segundo Fromm: “Todos os homens são ‘idealistas’ e anseiam por algo além da mera satisfação física. Eles divergem na espécie de idéias em que acreditam. As melhores, assim como as mais satânicas expressões da mente do homem, não são manifestações de sua carne, e sim desse ‘idealismo’ de seu espírito”.
Em que pese o texto de Fromm não se valer de terminologia espírita, mais adequada a meu ver, seu alerta é importante, pois coloca responsabilidade e autonomia diante de nós, tal qual faz o Espiritismo: fomos criados simples e ignorantes, chegamos ao patamar do pensamento contínuo, para enveredar cada vez mais no crescimento do senso de justiça e ampliar os conceitos da moral dominante na sociedade em que vivemos.
          E basta!
[1] FROMM, Erich “Análise do Homem”. Rio de janeiro : Zahar Editores, 19xx.






Parabéns por recordarem os 150 anos do Auto-de-Fé de Barcelona (CCEPA Opinião/outubro-2011). As perseguições hoje são apenas mais sutis. Mas se expressam através da exclusão dos espíritas no debate das grandes questões de nosso tempo.
          Giane de Ávila Cruzado – Campinas/SP       
         
          A entrevista concedida pelo editor desse jornal ao site Pense - http://www.viasantos.com:80/pense/arquivo/1347 - não só é esclarecedora, mas também deliciosa, palatável. Identifico-me com esse desejo, anelo de aspiração ao entendimento do Espiritismo desatrelado das concepções religiosas, como uma Filosofia científico existencial-socialista da realidade do Espírito. Sim, companheiros, a proposta espírita tem por escopo a autolibertação da consciência do Homem, Espírito imortal, escoimando-se dos ranços e resíduos das crenças religiosas alimentadas no caudal das nossas vivencias ancestrais.
Parabéns ao nobre Milton Medran, pela inteligência dos conceitos emitidos, pela justeza, a meu ver, com os postulados e o pensamento de Kardec, que embora formulados no contexto de época do século XIX, devem ser refletidos e atualizados no foro íntimo de cada criatura, no transcorrer do tempo inesgotável. Por isso, Kardec proclama que "Fé (não no sentido religioso de buscar soluções exógenas de salvação, mas na conscientização do autoconhecimento de cada indivíduo) inabalável só é a que encara a Razão face a face, em todas as épocas da Humanidade". 
          Sidnei Batista - São Paulo/SP