segunda-feira, 2 de maio de 2011

OPINIÃO - ANO XVII - N° 185 - MAIO 2011

Livre Pensar Espírita 
começando a fazer história!

          Tudo começou em João Pessoa
          Um evento organizado pela ASSEPE – Associação de Estudos e Pesquisas Espíritas de João Pessoa/PB, e patrocinado pela Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA – CEPABrasil - , em abril de 2008, recebeu a denominação de Fórum do Livre Pensar Espírita. Grupos filiados à CEPA – Confederação Espírita Pan-Americana -, no Brasil, gostaram do nome e decidiram adotá-lo para uma série de eventos que, desde então, têm se realizado em diferentes pontos do país, onde existem núcleos ligados à CEPA. Com isso, o Fórum da ASSEPE, de 2008, lançado para ser o único com aquele nome, acabou por incorporar o ordinal “1º”. A partir de então, a CEPABrasil elegeu a expressão livre pensar como ideia chave na ação a favor do progresso do pensamento e da modernização do movimento espírita.

          Quatro edições já foram realizadas
          Até aqui foram realizados:
            1º Fórum do Livre Pensar Espírita – João Pessoa/PB – 25 e 26 de abri/2008. Tema: “A Evolução do Pensamento Kardecista”.
          2º Fórum do Livre Pensar Espírita – Pelotas/RS – 17 a 19 de outubro/2008. Tema: “A Reencarnação”.
       3º Fórum do Livre Pensar Espírita – Guarulhos/SP – 5 a 7 de junho/2009 – Tema: “Espiritismo, Saúde Mental e Cidadania”.
        4º Fórum do Livre Pensar Espírita - João Pessoa/PB - 12 a 14 de novembro/2010 - Tema: "A Construção da Identidade Espírita de Kardec aos dias atuais".
          Por sua vez, os centros espíritas da Baixada Santista ligados à CEPA realizam, anualmente, no mês de abril o seu Fórum do Livre Pensar que, este ano, cumpriu sua 6ª edição.
          Para integrar os participantes de todas essas atividades, que têm caráter regional, a CEPABrasil promove, de dois em dois anos, um Encontro Nacional. O primeiro deles foi realizado em Itapecerica da Serra (SP), enfocando o tema Consciência (2008) e o segundo, em 2010, em Bento Gonçalves/RS, tratou da questão da Identidade do Espiritismo. Com essa gama de atividades, os grupos brasileiros ligados à CEPA consolidam-se como um segmento de vanguarda no movimento espírita brasileiro.
                                                                                                                                                                                                                                                                                  
          Fortaleza sediará o 5º Fórum, em junho
         O V Fórum do Livre Pensar Espírita acontece de 24 a 26 de junho próximo, em Fortaleza, capital do Ceará. A União das Sociedades Espíritas do Estado do Ceará – USEECE – que, recentemente, aderiu à CEPA, organiza o evento da Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA. O tema central será: “Reencarnação, Lei Natural para a Espiritualização da Humanidade”. Segundo a presidenta da CEPABrasil, a médica paulista Alcione Moreno (foto), “a temática eleita por nossos amigos cearenses é muito oportuna, pois o tema reencarnação será, depois, aprofundado, no Congresso Pan-Americano da CEPA, que acontece em Santos/SP, em setembro do próximo ano”. Segundo ela, “vista sem ranços religiosos e liberta dos preconceitos da ciência materialista, a reencarnação oferece uma rica fonte de aplicações no campo do conhecimento e da ética social e individual”, por isso, “é um tema que convida a um enfoque realmente livre-pensador”.
          No boletim “América Espírita”, encartado nesta edição, a programação completa do Fórum de Fortaleza, cujas inscrições ainda estão sendo recebidas no site http://livrepensarespirita.com.br/.




            


          
              Por que livre pensar?
      Quem adotou o espiritismo como uma nova religião poderá experimentar alguma dificuldade em qualificar-se como um livre-pensador. Dogmas, de qualquer natureza, não combinam com livre-pensamento. Uma doutrina tida como pronta e acabada não se coaduna com o livre-pensamento.
          Allan Kardec escreveu que o espiritismo não é “uma nova fé cega substituindo a outra fé cega”, não é “uma nova escravidão de pensamento sob uma nova forma”. Ele “estabelece como princípio que antes de crer é preciso compreender”. (Revista Espírita – fev/1867). Por isso mesmo, não hesitou em classificar, ali, o espiritismo como uma proposta francamente livre-pensadora, tomando a expressão “livre- pensamento” como “livre exame, liberdade de consciência, fé raciocinada”, que simboliza “a emancipação intelectual, a independência moral, complemento da independência física”. Segundo Kardec, “o que caracteriza o livre pensador é que pensa por si mesmo e não pelos outros”, e que “neste sentido, o livre-pensamento eleva a dignidade do homem”, fazendo dele “um ser ativo, inteligente, em vez de uma máquina de crer”.
          Por tudo isso, e porque o espiritismo, como todo o conhecimento, nunca estará pronto, exigindo uma permanente ação construtiva, é preciso pensar e agir com responsabilidade, mas também com liberdade. Construir sobre os firmes alicerces lançados por Kardec e seus interlocutores espirituais é a tarefa que hoje se impõe aos espíritas autenticamente progressistas e livre-pensadores. (A Redação)



        




      
        Opinião e consciência
            O homem livre é dono de seus pensamentos e escravo de sua consciência.
                                                                                                                           Aristóteles
          
      Mandamentos religiosos são impositivos: “não matarás”, “não cometerás adultério”. Algumas religiões descem a detalhes que balizam os hábitos alimentares, sociais, familiares e políticos das pessoas: não fumar, não ingerir bebidas alcoólicas ou determinados tipos de carne, usar vestidos e cabelos longos, votar em determinado partido, etc.
          O ser humano inteligente e cioso daquilo que lhe é bom ou lhe é prejudicial, aos poucos, se liberta das imposições religiosas e passa administrar a vida e a interagir com o mundo a partir dos valores ditados por sua consciência. O espiritismo é uma filosofia libertadora que tem por fim conduzir o espírito à plenitude desse estágio. Liberdade de pensar e de agir são conquistas paulatinas que ampliam a consciência crítica perante a vida, o mundo, a sociedade e suas cada vez mais complexas estruturas.
          Por isso mesmo, diante de aspectos polêmicos, ainda não consensualizados pela sociedade, espíritas também podem divergir entre si, embora igualmente inspirados em valores genuinamente espíritas.
          No mês passado, este jornal publicou na secção “Enfoque” bem fundamentado artigo de um pensador espírita posicionando-se contrário a toda e qualquer descriminalização da droga, seja esta qual for. Nesta edição, outro pensador, não menos brilhante, acena com a teoria da descriminalização como política capaz de combater o uso da droga. Um e outro, contudo, veem na drogadição um flagelo. O primeiro sustenta que o materialismo é sua principal causa. O segundo aponta a educação como a ferramenta ideal para combatê-la. Na base, pois, valem-se ambos de princípios filosóficos espíritas para debelar as causas desse flagelo.
          Este pequeno mensário cultiva o pluralismo de ideias, sem nunca afastar-se dos princípios fundamentais do espiritismo. Prova-o esta edição, pelas razões já expostas e por uma ampliação do espaço, ao lado, destinado à interlocução com o leitor. Aqui, trabalhamos com opinião, não exatamente com orientação. E, com isso, todos nos enriquecemos, formando nossas opiniões pessoais, de maneira livre, consciente e responsável.
Liberdade de pensar e de agir são conquistas que ampliam a consciência crítica perante a vida.










              Um grande manicômio...
          Apavorada como, de resto, ficamos todos, ante a tragédia de Realengo, quando um jovem invadiu uma escola e matou 12 adolescentes, uma senhora me disse: “O mundo se tornou um grande manicômio!”.
          Alguma razão se pode conceder àquela mulher, se atentarmos para os índices revelados pela Associação Brasileira de Psiquiatria. De acordo com a ABP, só no Brasil existem cerca de 17 milhões de portadores de transtornos mentais graves. Seriam 9% da população brasileira. A incidência, bem maior, em países desenvolvidos, como, por exemplo, os Estados Unidos, de episódios semelhantes a este que comoveu o Brasil, leva a supor que o índice mundial seja bem superior.
          ...ou uma grande escola?
          Ainda assim, nós, espíritas, preferimos conceber o mundo como uma grande escola. Lançando um olhar retrospectivo pela História, não será difícil concluir que quanto mais recuarmos no tempo, mais insano se apresenta o mundo. Por séculos, fomos governados por verdadeiros mentecaptos, escondidos atrás de sua condição nobiliática, protegidos por seu sangue azul ou por um direito pretensamente divino. A loucura era institucionalizada e os genocídios e guerras santas tinham o respaldo de um Direito torto, fundado em privilégios e no desprezo ao que hoje reputamos como os mais comezinhos direitos humanos. Não é nenhuma alucinação admitirmos que os celerados de ontem devam estar novamente entre nós, rematriculados na grande escola terrena buscando o aprendizado da convivência, do respeito ao próximo, da tolerância e do amor, únicos remédios a lhes sanar as chagas da alma. 
             A reencarnação
          A reencarnação se apresenta como pedagógico sistema de justiça e de reabilitação, fatores não vislumbrados no materialismo inconsequente ou no dogmatismo utópico que prega um sistema de bem-aventuranças eternas ou de castigos sem remissão. Entretanto, a mesma racionalidade filosófica que nos leva a admitir o retorno ao cenário antes violentado por um delirante ator, também impõe aos demais partícipes do drama da vida o dever de contribuírem para um “remake” capaz de levar a um final feliz.  Não é à toa que estamos compartilhando o mesmo palco.

          Regeneração
        Não interessa saber que causas pretéritas concorreram, ou não, para fazer de Wellington Menezes de Oliveira o insano capaz de provocar o horrível atentado. Tudo o que se disser sobre isso,  ou de eventuais encadeamentos entre ele e as vidas que ceifou, não passará de mera especulação. Uma única coisa interessa: a sociedade chamada a acolher, pela lei do retorno, espíritos que danificaram gravemente seu psiquismo, tem o dever de contribuir para sua regeneração. Uma única célula doente compromete todo um organismo. O organismo social capaz de diagnosticar a existência de um número tão expressivo de células enfermas, como as da estatística, se faz conivente com tragédias assim se não oferecer àqueles infelizes o tratamento digno e a inserção social. Esse é o grande desafio proposto pela lei da reencarnação, e não a pura e simples revanche, vitimando inocentes, por conta de “resgates passados”, como sugerem canhestras interpretações que sempre aparecem após tragédias dessa dimensão.















O dia 23 de abril último, registrou 75 anos de existência do nosso Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, 45 dos quais dedicados à busca de um espiritismo restaurado à sua essência dinâmica e livre-pensadora, tão insistentemente estimulada pelo seu fundador Allan Kardec.
Foi  a partir dos anos oitenta que, com clareza maior, definiu-se o modelo que mais se ajustava aos anseios do nosso pequeno, mas corajoso, grupo. A partir daí avançamos com mais desenvoltura na construção de um espiritismo "emancipado de místicos e milagreiros, ainda mercadores de indulgências, que elegeram um Jesus, quase sempre triste com os nossos pecados, passivo e estático, que eles adoram sem compreender a dinâmica de sua mensagem libertadora", na imagem do espírito J. Cacique de Barros em mensagem de aprovação e estímulo de 4 de abril de 1986.
Como era de se esperar, considerando a natureza conservadora do espiritismo brasileiro, a reação não tardou. Foi surpreendentemente virulenta já que partiu de antigos companheiros de luta e aprendizado. Fomos vilipendiados, excomungados e tivemos que caminhar sozinhos por compreender que a natureza libertadora e progressista  da visão espírita de homem e de mundo nos convida a entender que não basta que o espiritismo exista ele precisa se continuadamente construído, não contra, mas apesar  daqueles que o querem reduzir a mais uma seita cristã.
Para o pequeno, mas fortemente unido, grupo de trabalhadores a lição relembrada mais uma vez naquele 23 de abril foi que, a aventura da liberdade tem custo elevado, porém altamente compensador.
Depois de tantos anos de convivência e estudo, nada define melhor a postura do nosso grupo diante do pensamento espírita do que o lema, cunhado por nosso companheiro Maurice Herbert Jones, que temos adotado há muitos anos:
"Sabemos pouco, não temos certezas definitivas mas ousamos buscar".

A data foi comemorada em singela confraternização entre os membros da instituição, na reunião da Oficina de Trabalhadores de 25/4.

 
      Psicologia e Espiritualidade:
        A conferência de junho
        Na primeira segunda-feira de junho (6) a conferência mensal do CCEPA estará a cargo do psicólogo Luís Augusto Sombrio: “Psicologia e Espiritualidade”, às 20h30, com entrada franca.







   O Flagelo das Drogas e a Descriminalização
         Eugenio Lara (São Vicente, SP), arquiteto e jornalista, fundador e editor do site PENSE - Pensamento Social Espírita [www.viasantos.com/pense.

A questão das drogas é um dos temas mais polêmicos e perturbadores da atualidade. Não há um consenso quanto à política mais eficiente a ser adotada para eliminar esse flagelo, que aflige não somente a sociedade brasileira, mas o mundo todo. A proibição não resolve o problema. De início, a descriminalização, certamente, é o melhor caminho, pois se trata de uma questão de saúde pública, muito mais do que uma questão criminológica.
       Na história da humanidade, nunca existiu uma cultura ou civilização que não usasse drogas. Desde as cavernas até hoje elas fazem parte da nossa vida, seja no popular cafezinho, no chimarrão, no chá de coca, no pó de guaraná, na aspirina, nos calmantes e estimulantes, nos anabolizantes e remédios para emagrecer ou dormir.
    Nas culturas arcaicas, nos povos ditos primitivos, o uso de substâncias entorpecentes sempre esteve associado ao ritual religioso, aos ritos de passagem, no culto aos deuses. O tabaco era de uso comum entre os ameríndios (o “cachimbo da paz”), assim como o peiote, cogumelos, o ópio em outras culturas, todas elas desconhecedoras da overdose, do tráfico e da toxicomania. As pitonisas gregas profetizavam inebriadas por gases advindos de uma fenda subterrânea. Nossos índios aspiram a raspa do curare em sua zarabatana, para reencontrar os espíritos da floresta. No Santo Daime, religião sincrética surgida das entranhas do Espiritismo, o consumo da ayahuasca, droga alucinógena, é feito de modo controlado, como uma forma de autoconhecimento.
     O álcool, uma das drogas mais antigas e devastadoras, faz parte de quase todas as culturas, desde o vinho até a aguardente, das bebidas destiladas às fermentadas. Da vodca ao saquê, da cerveja ao conhaque, cada nação tem em seu patrimônio algum tipo de bebida alcoólica, como marca de sua identidade cultural.
      Até na Bíblia podemos observar o consumo do vinho, como no incesto das filhas de Lot, que o embebedaram para engravidar, bem como no escândalo do patriarca Noé em um dos porres mais notórios da história bíblica, logo após o Dilúvio e a celebração da nova aliança com Jeová. Por outro lado, o vinho foi tomado como bebida sagrada pelo cristianismo, desde o primeiro milagre de Jesus de Nazaré nas bodas de Canaã, quando transformou água em vinho, até a celebração final com os discípulos na Última Ceia, regada a pão e vinho. E não nos esqueçamos de que o símbolo do Espiritismo é o ramo da videira.
       Nossa civilização perdeu o sentido primordial, arcaico do uso de substâncias que alteram a percepção mental. Do uso sábio e controlado, partiu-se para o abuso. Hoje, tornou-se um gravíssimo problema de saúde pública, em escala mundial.
Nas décadas anteriores, a droga era de difícil acesso, muito cara, uma exceção, algo secreto, usada na alcova, como forma de expansão da mente, de experiência subjetiva, transcendental ou então, uma atitude contrária ao despotismo, ao autoritarismo, coisa também da malandragem, da contravenção ingênua. Tinha um sentido pretensamente revolucionário, de contestação até experimental, como nas pesquisas psicodélicas de Timothy Leary com o LSD, o ácido lisérgico, nos anos 1960. Todavia, as mortes por overdose de Janis Joplin, Jim Morrison, Jimi Hendrix, Brian Jones etc. revelaram a face negra do consumo indiscriminado das drogas, o lado obscuro da contracultura, do movimento hippie.
     A toxicomania é, na realidade, a ponta do iceberg, apenas um sintoma de muitos problemas sociais de ordem moral, psicológica, próprios de nossa época. Nos últimos 30 anos tornou-se um flagelo, um monstro devorador. As drogas viraram uma coisa banal, amplamente difundida e de fácil acesso, mas com outra conotação, outro significado.
     Hoje seu consumo se banalizou completamente. Compra-se crack, cocaína, heroína, drogas pesadas, em qualquer esquina. Quase toda cidade tem sua cracolândia. O tráfico virou um poder paralelo, com representantes no Congresso, na Câmara dos Deputados, com a cumplicidade da polícia e da sociedade.
         Não há outra saída senão a educação, processo a longo prazo, mas duradouro, eficiente, através de cursos, campanhas informativas, publicações instrutivas, palestras etc. Por trás de todo esse consumo indiscriminado de drogas está o egoísmo, pois ele é o grande algoz, está presente na raiz de todas as viciações, já afirmara Allan Kardec. Segundo o pensador espírita Jaci Regis, em Comportamento Espírita (cap. 5), esse mesmo egoísmo “comercializa a droga, a distribui entre crianças e jovens. Doura a pílula amarga do cigarro, pela fantasia da propaganda, forçando a imitação pelos mais fracos. Torna elegante e parte integrante da alegria e da dor, o consumo de bebidas de alto teor alcoólico. Monta cassinos, cria loterias, o jogo do bicho, o carteado.”
      No entanto, não é somente pelo viés do egoísmo que as pessoas usam drogas. Ora, por que então as pessoas se drogam? Por que somente alguns se viciam?
Cada qual tem suas motivações particulares, singulares. Normalmente, os viciados são pessoas com um “buraco negro” na alma, extremamente carentes, frágeis, existencialmente vazias, com graves problemas reencarnatórios, familiares, pessoais, dominadas pelo estresse dos dias de hoje. A droga preenche esse vazio e leva ao vício, à necessidade mental, psicológica de sair de si mesmo, de se autodestruir, de se entrar em um mundinho particular, todo seu. É a fuga existencial. O dependente químico é, sobretudo, uma pessoa carente, incapaz de se autoadministrar. E eles, felizmente, são minoria. A grande maioria, mesmo experimentando, não estaciona no uso irresponsável de substâncias tóxicas.
       Não se pode colocar no mesmo balaio o traficante e o usuário. É por isso que, em termos imediatos, somos totalmente a favor da descriminalização, de uma alteração radical na legislação para o consumo de drogas leves, como a maconha, por exemplo, a mais popular de todas elas. A experiência de países como a Holanda, Portugal e, mais recentemente, a Argentina, precisa ser considerada. A legalização de algumas substâncias, como o são o álcool e o fumo, talvez seja uma opção, a fim de se tentar acabar com o mercado negro, com o império do tráfico. O usuário não será mais tratado como criminoso.
    Para o Espiritismo, o maior prejuízo no uso indiscriminado de drogas é a perda da liberdade: “Já não é senhor do seu pensamento aquele cuja inteligência se ache turbada por uma causa qualquer e, desde então, já não tem liberdade. Essa aberração constitui muitas vezes uma punição para o Espírito que, porventura, tenha sido, noutra existência, fútil e orgulhoso, ou tenha feito mau uso de suas faculdades.” (O Livro dos Espíritos, q. 847 - FEB. Grifo nosso).
      Em nosso entender, como diz o provérbio latino: “O abuso não desmerece o uso”. Se há os que abusam do álcool, isto não significa que não se possa apreciar um bom vinho, uma champanhe, uma boa cachaça, com moderação e bom senso. Se há aqueles que arrebentam seu pulmão fumando um ou mais de dois maços de cigarro por dia, isto não quer dizer que não possamos apreciar um bom charuto cubano ou baiano, um cachimbo com fumo bem aromatizado ou mesmo um cigarrinho de palha de milho, com um bom fumo de rolo, lá do Tietê.
      Nesta polêmica questão, repetimos, o melhor caminho é a educação, moral e informativa. Neste sentido, a contribuição ética do Espiritismo é inestimável, extremamente rica, a fim de se buscar uma saída para esse flagelo em que se transformou o consumo de drogas em todo o mundo.









     O trabalho dos laicos
       As publicações “CCEPA Opinião” e “América Espírita” mostram o interessante e instrutivo trabalho dos espíritas laicos, ou seja, não religiosos.
      O fato de considerar-me um espírita religioso não me impede de apreciar os excelentes trabalhos que são produzidos pela CEPA.  Nas obras dos argentinos Manuel Porteiro e Humberto Mariotti, do venezuelano Jon Aizpúrua e dos brasileiros Jaci Regis e Milton Medran Moreira a base kardecista prevalece. Evitam todos os rituais e a idolatria a Jesus. Já assisti a palestras nas quais as nossas tradicionais preces de abertura e encerramento não foram efetuadas.   Já li várias críticas construtivas ao Movimento Espírita realizadas por eles. Gostam de debates. As federações fazem “silêncio” sobre eles que são muito ativos em alguns centros de Santos e São Paulo. Conheço-os desde os anos 80, já participei de Congressos e Simpósios, tenho vários amigos entre eles.
Gilberto Guimarães da Silva – Guarulhos/SP.

     O papel de Kardec
         Reporto-me à  observação do prof. Antonio Baracat (Opinião do Leitor, março 2011), em que declara que a Doutrina Espírita é obra dos espíritos  e transcrevo escritos de Allan Kardec em "Obras Póstumas" (IDE) Projeto  1868, pag. 329: "...ora, creio que seria
útil que aquele que fundou a teoria pudesse dar-lhe, ao mesmo tempo, o impulso, porque teria mais unidade." E, adiante, na pag. 260: "Minha primeira iniciação no Espiritismo” : “ ... cabe ao observador formar o conjunto com a  ajuda de documentos recolhidos de diferentes lados, colecionados , coordenados e controlados uns pelos outro. Agi, pois, com os Espíritos, como teria feito como os homens; foram para mim, desde o menor ao maior, meios de me informar e não REVELADORES PREDESTINADOS”. (grifo de AK) Abraços.
 João José Guedes - Balneário Cassino, Rio Grande/RS.

   O Alto Preço da Irresponsabilidade
      Li com interesse o artigo de Roberto Rufo (Enfoque/abril).  O tema mobiliza minhas ideias há longo tempo. Entre os políticos que advogam a liberação e descriminalização do uso de drogas há alguns cuja opinião é certamente respeitável, mas há outros cujo julgamento está comprometido por serem, sabidamente, usuários de drogas.
    O  tráfico de drogas escancara as mazelas sócio-culturais brasileiras, não só demonstrando que a ilusão sobre o caráter dos brasileiros em situação de miséria visto como submisso e cordial não passa de embuste. E que boa parte dos filhos da classe média nacional comporta-se de modo selvagem, faltando-lhe as mínimas noções de educação para a vida que as famílias deveriam fornecer. Imaginar que a liberação ao uso de drogas resolva o problema do tráfico é de uma ingenuidade assustadora. Com que justificativa ética seria passado o trabalho sujo de sustentar o uso recreacional de drogas como cannabis, cocaína, morfina, heroína, crack, para profissionais médicos, farmacêuticos, além de donos de farmácia, ou membros do governo federal? Quais drogas seriam liberadas? Quais seriam os critérios, se mesmo a cannabis sativa, considerada “leve“ pela mídia pouco esclarecida, é agente desencadeador de esquizofrenia em indivíduos psiquicamente predispostos? Ou as drogas seriam receitadas e vendidas apenas como algum tipo de tratamento, se é que é possível tratar drogadição sem um doloroso processo de abstinência? Neste caso, a multidão de pessoas interessadas  simplesmente no uso recreacional buscaria adquirir as drogas no “mercado negro“, e o provável é que os profissionais envolvidos, incluindo o staff federal, viessem a corromper-se e manter-se-ia o tráfico. E sabendo que muitos dos consumidores são adolescentes, como iria se justificar a venda para esta população? Manter-se-ia o tráfico ilegal para os mais jovens, a não ser que algum maluco proponha que seja liberada droga para adolescentes. Um agente de saúde prescreveria drogas para jovens em idade escolar?       Não entendo como uma proposta assim possa surgir entre expoentes da política brasileira, que deveriam estar lutando para melhorar o nível do país, ao invés de tentar mascarar a realidade, empurrando o drama da selvageria cultural brasileira para debaixo do tapete.
 Dr. Jorge Luiz dos Santos, M.D. e Ph.D., pediatra e gastroenterologista pediátrico – Porto Alegre/RS.

     A atuação espírita no Conselho Nacional de Saúde e na imprensa

          Fico muito feliz com a participação efetiva dos espíritas no mundo dos vivo. Ações como essa no CNS, com a brilhante Sandra Regis à frente, aliada a editoriais de bom senso espírita no jornal Zero Hora, fazem parte do trabalho de atuarmos num mundo justo e igual.
Parabéns!
 Roberto Rufo - Santos/SP.