quarta-feira, 9 de junho de 2010

OPINIÃO - ANO XVI - N° 175 - JUNHO 2010

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Pesquisas da Universidade de Yale demonstram

Bebês possuem sentimento inato de bem e de mal

Ao nascer, é o ser humano uma “tabula rasa”, totalmente destituída de conhecimento e aptidão para distinguir o certo ou o errado, como afirmava o filósofo John Locke (1632/1704)? Ou será portador de ideias inatas, onde estão contidos juízos de valor sobre o bem e o mal, como sustentara Platão (428/347 a.C)? Recentes pesquisas apontam para esta última hipótese contemplada também pela filosofia espírita.

A experiência
Na experiência coordenada pelo Centro de Cognição Infantil da Universidade de Yale (USA), bebês de seis meses de idade são levados a assistir a apresentações de fantoches com personagens do bem e do mal, encarnando heróis ou vilões. Depois, os bebês são induzidos a que escolham seus preferidos. A maioria deles aponta para os bons. Em outra experiência, os bebês assistem a um filme de animação em que uma bola vermelha com olhos tenta subir um morro. Ao mesmo tempo, um quadrado amarelo ajuda-a, empurrando por trás, e um triângulo verde tenta empurrá-la para baixo, buscando impedir a subida. Terminado o filme, as figuras geométricas são apresentadas aos bebês. Oitenta por cento deles demora-se mais tempo fixando o olhar nas figuras que representaram um papel útil nas cenas. O mesmo ocorre em experiências em que as figuras têm suas cores trocadas.

Um senso moral rudimentar
Para Paul Bloom, o professor de psicologia que coordena a equipe, há evidências de que o ser humano tem um senso moral rudimentar desde o início da vida. Já o professor Peter Willatts, da Universidade Dundee, do Reino Unido, comentando para o jornal “Telegraph” a experiência, afirmou que ela é muito apropriada para se captar a atitude mental de bebês de tenra idade: “Você não pode entrar na mente de um bebê e nem lhe fazer perguntas” – disse – “Você tem que ir no que mais atrai sua atenção”. Willatts acrescentou que hoje se sabe que, no primeiro semestre de vida, uma criança aprende muito rapidamente sobre tudo o que a rodeia, acrescentando: “É difícil separar o que já traz ao nascer daquilo que aprendeu nos primeiros meses”. Com essa afirmação, o especialista britânico mostra rejeitar a tese da “tabula rasa” de John Locke, confrontando-se também com afirmação de Sigmund Freud para quem os bebês nascem em estado de “amoralidade”, só adquirindo o senso do certo e errado por condicionamentos ao longo da vida.

Para saber mais:
Ampla reportagem sobre a experiência desenvolvida na Universidade de Yale foi publicada do New York Times, repercutida em diversos órgãos de imprensa mundial e na internet.
No site  http://mais.uol.com.br/view/1hjuf7gjt6ko/um-bebe-humano-ja-tem-nocao-de-moral-04029A3260DCC10366?types=A   você pode assistir ao vídeo registrando as experiências feitas com bebês, com texto dublado para o português.

Nossa Opinião

Preparando a Era do Espírito

A tese da preexistência do espírito à vida corporal, aliada à das múltiplas experiências encarnatórias, confere, necessariamente, uma visão revolucionária da vida.
A cultura do Ocidente, forjada a partir das crenças do cristianismo institucionalizado e, depois, desenvolvida sob uma ótica estritamente materialista, rejeita, por ambas as vertentes, de forma apriorística, aquela hipótese. O chamado paralelismo psicobiofísico, segundo o qual se desenvolvem conjuntamente o biológico e o psicológico, sendo este um epifenômeno daquele, é um dogma científico. Dogma que se casa com a religião dominante. Cristianismo e materialismo fecham questão nesse aspecto: a vida psíquica, e logo, a vida moral, considerada esta como a consciência do bem e do mal, se desenvolvem com o ser humano, a partir de sua formação biológica e das correlações sociais do nascituro com o seu meio.

O espiritismo, em uma linha de superação à dogmática cristã e de avanço dos postulados científicos vigentes, propõe que, ao nascermos já possuímos um patrimônio moral, e que isto, bem mais do que a genética e o meio, é o que nos faz diferentes uns dos outros. É possível admitir, a partir daí, que, quando encarna em um mundo como este, detentor de uma história de conquistas morais, o indivíduo já está sintonizado e integrado a esse sistema de valores, comungando com seus vigentes consensos. Platão chamava isso de ideias inatas, trazidas pelo espírito do fascinante mundo das ideias, prevalente ao mundo dos sentidos.

As experiências desenvolvidas pela Universidade de Yale, embora possam admitir outras tantas interpretações, também podem confirmar essa hipótese. Daí sua importância e seu significado como um elemento a mais a construir a ciência de um novo tempo, que, com certeza, pavimenta o advento da Era do Espírito. (A Redação).

Editorial

Vida artificial: afronta a Deus ou progresso humano?

Vós sois deuses.
Jesus de Nazaré

As primeiras manchetes na imprensa, apressadamente, anunciavam: “Laboratório norte-americano cria vida artificial”. Pouco a pouco, conferiu-se melhor precisão ao relato do feito trazido a público, no último mês de maio: cientistas do Instituto J. Craig Venter, dos Estados Unidos, sintetizaram o genoma de uma bactéria e o transplantaram ao interior de uma outra bactéria. O genoma transplantado começou a funcionar na nova bactéria, produzindo proteínas características.
Um feito, sem dúvida, extraordinário, mas que, como advertem os especialistas, ainda não teria cruzado o limiar da criação da vida artificial, considerando-se o fato de a bactéria receptora ser ainda natural. Apenas seu genoma foi retirado. O citoplasma, que é a parte líquida de uma célula, com suas substâncias próprias, ali se manteve.
De qualquer modo, pela primeira vez, o ser humano tem diante de si um organismo que não teve seu genoma formado a partir da replicação direta de um outro ser vivo. Resultou da descrição de outro organismo, que fora previamente armazenada em um computador.
A técnica desenvolvida poderá, no futuro, produzir inúmeros avanços para a humanidade: novas fontes energéticas; vacinas mais eficientes; substâncias capazes de regenerar tecidos; criação de células utilizáveis na absorção do dióxido de carbono, beneficiando o meio ambiente; produção de proteínas para a alimentação, etc. Mas, a mesma façanha científica é também apta à criação de armas biológicas destruidoras, ou de organismos capazes de provocar mutações genéticas desastrosas à raça humana, tornando-se, assim, poderosíssimo agente destruidor.
São justas, pois, tanto as esperanças acendidas com a nova descoberta, quanto as apreensões éticas ante a possibilidade de sua má utilização. Como tudo, na vida, aliás. Qualquer das descobertas humanas, da roda às modernas aeronaves, do telégrafo aos satélites ou redes mundiais de computadores, da energia a vapor à atômica, prestam-se, igualmente, ao bem e ao mal, à construção e à destruição, à evolução ou à degradação humana. Nunca como hoje, entretanto, a humanidade se preocupou tanto com a plena sintonia entre a ciência e a ética. Tanto assim que, mal se anuncia um novo avanço científico, mobilizam-se organismos internacionais e inteligências do mundo todo na busca do controle racional e ético dos recursos descobertos.
Estará aberta a probabilidade de o ser humano criar a vida, agora que já comprovou poder manipulá-la na sua intimidade? Seja como for, a hipótese, antes de representar, como o querem os fundamentalistas religiosos, uma afronta à Deus, conduz a uma melhor compreensão da grandeza potencial do homem. Ratifica, em última análise, a presença divina em nós e reveste-nos de uma responsabilidade que, em etapas já vencidas, atribuíamos ao exclusivo arbítrio dos deuses.
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Opinião em Tópicos
Milton R. Medran Moreira

Chico, o filme
Só pude assistir ao filme “Chico Xavier”, quando mais de 3 milhões de brasileiros já o haviam feito. Perdi de fazê-lo nas semanas de estreia, quando esteve em cartaz nas salas dos shopping-centers mais próximos de minha casa, em Porto Alegre. Minha sorte foi de que, em maio último, passando um fim-de-semana em Gramado, na serra gaúcha, a película estava lá sendo exibida. Assim, terminei por vê-la justamente no majestoso prédio que serve de sede ao Festival de Cinema de Gramado. O evento, a propósito, está, neste exato momento, preparando sua 38ª edição para agosto próximo, quando, naturalmente, será melhor analisado pelos especialistas o estrondoso sucesso dessa produção de Daniel Filho. Ela está batendo todos os recordes de público para um filme nacional.

Chico, o homem
Nós, espíritas, com formação baseada, praticamente, na vida e na obra de Chico Xavier, tínhamos curiosidade de saber como, em duas horas de projeção, um filme iria resumir o fenômeno Chico. Com certeza, essa também foi a preocupação do autor que a expressou em duas frases exibidas na abertura da projeção: “ A história de um homem não cabe num filme. O que se pode é ser fiel à sua trajetória”. E essa fidelidade a obra cinematográfica conseguiu, sem dúvida, preservar. Especialmente porque, com rara maestria, o filme desmitifica o personagem e exibe o homem Francisco Cândido Xavier. As dúvidas e incertezas, as fraquezas e grandezas, traduzidas em cenas como seus diálogos com o padre ou no hilário episódio da adoção do uso da peruca ou, ainda, no chilique protagonizado quando pensou estar caindo o avião em que viajava, tudo isso bem retratou o homem Chico. Um feliz contraponto à imagem do santo, comumente divulgada, especialmente no meio espírita.

Chico, a bondade
Sem ser exatamente um santo, Chico, no entanto, foi um magnífico exemplo de bondade. Essa virtude, que pressupõe humanismo, tolerância e distanciamento de qualquer fundamentalismo, foi a mensagem central do filme. E, por isso, ele está sendo assistido por pessoas de todas as crenças, e, igualmente, aplaudido por homens e mulheres que não têm qualquer fé religiosa. Entre eles alguns ateus, como se declarou o próprio diretor Daniel Filho.
Sensibilidade, bondade, humanismo não são privilégios dos que têm fé. São necessidades evolutivas impregnadas na alma humana e para cujo pleno exercício, muitas vezes, a fé termina sendo um obstáculo, por conta das barreiras interpostas.

Chico, o fenômeno
Mas, fica também outra mensagem. O fenômeno espírita, seja aquele produzido em ambiente religioso, como o que impregnou a vida de Chico Xavier, seja o que ocorre em outros campos, com conotação laica, é um instigante convite à investigação da ciência e um tema que merece mais abertura de parte dos veículos de comunicação. Chico Xavier foi um fenômeno possivelmente irrepetível, no campo da mediunidade. Por cerca de 90 anos, esteve entre nós. Suscitou algumas controvérsias ligadas à dicotomia crença/não-crença. Sofreu ataques de cientistas arrogantes e de religiosos intolerantes. Acabou firmando a imagem de um homem caridoso e bom. Mas, daqui partiu sem que sua extraordinária paranormalidade fosse convenientemente investigada pela ciência humana. Seu potencial foi relegado ao terreno imponderável da sobrenaturalidade. Pena que não houvesse sido visto sob um olhar natural. Simplesmente como um homem, tal qual o viu o filme.

Notícias

Cursos Básicos de Espiritismo – o jeito novo de começar
Encerrou-se, dia 12/5, mais um Curso Básico de Espiritismo, oferecido pelo Centro Cultural Espírita de Porto Alegre. Realizado, desta vez, no período da tarde, durante cinco quartas-feiras consecutivas, e sob a coordenação de Cristian Macedo (na foto), o CBE atraiu 28 frequentadores. Depois de seu término, alguns de seus integrantes decidiram se engajar aos grupos regulares de estudos do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, formando um novo grupo do chamado Ciclo Básico de Estudos Espíritas – CIBEE – que seguirá se reunindo às quartas-feiras, às 15 h, coordenado por Cristian.

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Em junho, novo curso, à noite
Um novo Curso Básico de Espiritismo está programado para o mês de junho, a partir de 17, quinta-feira, às 20h30, ministrado por Rui Paulo Nazário de Oliveira. Com o objetivo de enfocar os princípios básicos do espiritismo, o CBE oferecerá cinco módulos, que se estenderão até o dia 17 de junho, sempre às quintas: “O que é o Espiritismo”, “Sobrevivência, imortalidade e evolução do espírito”, “Comunicação mediúnica”, “Pluralidade de existências e de mundos habitados” e “Consequências morais”. Encerrada a programação, será oportunizada aos interessados a frequência a um novo Ciclo Básico de Estudos Espíritas. O CCEPA é uma instituição espírita que privilegia o estudo do espiritismo, a partir de uma visão progressista, laica e livre-pensadora. Interessados podem fazer contato pessoal, na rua Botafogo, 678, fone (51) 32092811, também via e-mail – ccepars@gmail.com – ou, ainda, acessando o blog www.ccepa.blogspot.com .

Palestras públicas do CCEPA motivam seminário mensal
De há muito, o Centro Cultural Espírita de Porto Alegre vem oferecendo a seu público externo uma palestra pública mensal, na primeira segunda-feira de cada mês. Desde o último mês de maio, o tema da palestra vem, igualmente, propiciando material de discussão para seus grupos de estudo, reunidos nas noites de quintas-feiras. Assim, o tema “Determinismo e Livre Arbítrio”, enfocado por Homero Ward da Rosa, dia 3/5, motivou desdobramento por meio de estudos e reflexões, em seminário coordenado por Cristian Macedo, na noite de 20 de maio (quinta-feira). Também o tema “Flagelos destruidores sob a ótica espírita”, palestra de Aureci Figueiredo Martins (dia 7/6), ofereceu material a ser discutido em seminário previsto para a noite de 17/6, sob a coordenação de Valdir Ahlert. A iniciativa pretende reservar sempre a penúltima quinta-feira do mês para a realização do seminário, com discussão de material previamente enviado pelo coordenador do mês.

Léo Indrusiak fala sobre ecologia e espiritismo
O palestrante da primeira segunda-feira de julho (5, 20h30) é Léo Indrusiak, dirigente do Instituto Espírita 3ª Revelação Divina, que se ocupará do tema “Ecologia e Espiritismo”.

CPDoc reúne-se em Santos, dias 19 e 20
O Centro de Pesquisa e Documentação EspíritaCPDoc – reúne-se dia 19 deste mês, no Centro Espírita Allan Kardec, Santos/SP. Na pauta: discussão do trabalho “Os Quatro Espíritos de Kardec”, de Eugenio Lara e assuntos administrativos. O encontro prossegue no domingo, 20, em atividade conjunta com a CEPA BRASIL, oportunidade em que Alexandre Caroli Rocha fará exposição de seu trabalho “O Caso Humberto de Campos – Autoria Literária e Mediunidade”, tese de doutorado na UNICAMP. Na sequência, será discutido pelos presentes um texto de Salomão Jacob Benchaya “Espiritismo Laico e Livre-Pensador – Carta de Posicionamento”, uma proposta que circula para estudo no âmbito da CEPA BRASIL.

Enfoque

Honestidade na Política
Milton Felipeli escritor, radialista, expositor e articulista. Membro da Associação de Divulgadores do Espiritismo de São Paulo – ADE-SP. Apresentador de programas da Rede Boa Nova de Rádio. E-mail: miltonfelipeli@hotmail.com

Política é uma palavra grega e vem de politiké, ou seja, a arte de governar um estado. Poli (Polys) é designativo de muitos (a cidade, o estado, por exemplo).
Platão, um dos mais conhecidos e apreciados filósofos gregos, desenvolveu interessantes e importantes estudos sobre essa “arte de governar um estado”, introduzindo, dessa forma, a política, no estudo da filosofia, que é a mãe de todas as ciências.
A arte de governar, segundo Platão, deve ser através da aristocracia.
Aristocracia, por sua vez, significa o governo pelos melhores, (aristo + cracia). Os melhores do ponto de vista intelectual e moral, Para Platão, a política somente deveria ser exercida pelos que comprovadamente fossem os melhores.
Honra, honestidade,dignidade, fidelidade e coragem moral e todas as demais virtudes seriam as bases para a formação do político.
Conforme se pode observar, a escola política de Platão tendia para um relacionamento entre os estados em que a hierarquia selecionaria os melhores qualificados para a ocupação dos postos políticos.
No regime democrático (o governo pelo povo), é a massa popular que seleciona, pelo sistema de voto popular, os seus governantes. Logo, estes representam a aspiração, o desejo e a vontade de todos os cidadãos eleitores. A maioria dos votos populares é que determina a escolha.
O fundamento da qualidade da vontade do povo reside no conhecimento e na consciência política de todos os cidadãos, (usando o termo grego), aptos para exercer o direito do voto. A consciência política do povo depende de sua educação. A educação envolve a política. E essa matéria deveria vir desde os primeiros bancos da escola.
Para o fortalecimento político da sociedade é necessário que a criança receba aulas sobre política. E que nesses cursos sobre política para a criança sejam ensinadas as virtudes da honra, honestidade, fidelidade, dignidade e coragem moral.
Não se deve apenas reclamar da corrupção que ocorre em uma parte da classe política, posto que a desonestidade reinante não nasceu depois que os candidatos políticos foram eleitos. Já eram desonestos antes das eleições. Os que os elegeram não foram suficientemente capazes politicamente, para processar a escolha. A corrupção política, ou seja, a desonestidade política é um sintoma e um reflexo de uma enfermidade social, que pode e merece ser tratada, pelos que anseiam e agem em favor do bem e da justiça social.
A base de todas as injustiças – dizia Kardec – é o egoísmo que estimula o procedimento individualista de cada um lutar somente para si, desconsiderando as necessidades e os direitos do semelhante. A proposição do Espiritismo para a formação de uma sociedade ideal tem como alicerce o conhecimento e a ação da liberdade, da igualdade e da fraternidade.A felicidade social será alcançada quando conscientemente, os homens forem capazes de estabelecer esse programa social. Quando isso ocorrer, “os homens viverão como irmãos, com direitos iguais, animados do sentimento de recíproca benevolência; praticarão entre si a justiça; não causarão danos e, portanto, nada reclamarão um dos outros” (Obras Póstumas, in Liberdade, Igualdade e Fraternidade).

Opinião do Leitor

Pedofilia na Igreja
Li com interesse a coluna "Opinião em Tópicos", de Maio de 2010, do Milton Medran Moreira, a qual acompanho regularmente em função da boa qualidade.
O tema é a pedofilia na Igreja. Boas colocações, porém me parece que o problema é mais profundo que alguns padres parafílicos, pecadores, e um papa um tanto envergonhado com os descaminhos de seus curas. Há um anátema da Igreja contra a homossexualidade, um tabu entre os cristãos em geral.
A questão não se limita a uma dúzia de párocos. O drama é a posição de Igreja criada no século XI, que passou a exigir o voto de castidade de seus padres. O motivo não teve nada de espiritual, mas se relacionou, isto sim, com a possível divisão dos bens da Igreja pelos cônjuges e famílias. Um tema, enfim, de herança (Bertrand Russell. The History of Western Philosophy). Desde então, seres humanos, sexualmente desejantes, independente de sua orientação sexual, têm sido obrigados, alguns deles desde a tenra adolescência, a abrir mão do direito de expressar-se eroticamente. Uma barbárie psíquica e social, uma flagelação, na qual os impulsos sexuais dos "eunucos", desviam-se conduzindo à pedofilia. É claro que estes pedófilos, verdugos, devem ser responsabilizados judicialmente. Porém, e aí se localiza a delicada questão, a responsabilidade primordial é da instituição que os violenta. Algum deles, ao ser processado, deveria também processar a Santa Sé! O verdugo é, também, vítima.
A questão do homossexualismo, um dos fundamentos comportamentais da civilização clássica tão severamente criticado pelo fariseu Saulo, é extremamente inquietante para a Igreja. A situação homossexual associa-se à capacidade de transe, à sensibilidade estética e filosófica e à religiosidade- como se observou ao longo da história, incluindo os nativos norte-americanos, onde os “berdaches”, médiuns, são homossexuais, desempenhando papel importante na religiosidade daquelas comunidades.
Se, por um lado, pessoas com características homossexuais buscam a religião por uma tendência natural, por outro, a Igreja as mantém sob intenso controle, atuando sob a coação do medo. A aceitação de que pessoas homossexuais, adultas, possam relacionar-se de modo maduro, aceito pela Sociedade, buscando mesmo adotar crianças (e não delas abusar), para a Igreja é uma imensa perda de poder sobre o ser humano. Eu diria, mesmo, que há algo de inveja na posição de muitos poderosos da Igreja: “se eu abdiquei da minha vida, na crença de que o que eu sou é pecaminoso, como é que alguém vai viver esta orientação sexual de forma digna e livre?”.
Confundir a pedofilia católica com o homossexualismo, como tentam fazer alguns curas, é não ver que muitas vítimas dos padres são meninas, como se constatou na experiência do Presidente-bispo de um país vizinho. E como constatamos diariamente na atividade clínica.
Afetuoso abraço.
Jorge Luiz dos Santos, pediatra – Porto Alegre/RS